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Vitor Silva: A Lente Por Trás da Glória do Botafogo na Libertadores

Por Redação FutFogão em 19/08/2025 11:42

As lágrimas que escorreram durante o segundo tempo da memorável final da Libertadores, que coroou o Botafogo, são um testemunho eloquente da profunda relação que Vitor Silva nutre com a Estrela Solitária. Há doze anos, ele é o olhar por trás de algumas das imagens mais emblemáticas do clube, atuando como seu fotógrafo oficial. Sua memória afetiva abrange desde os desafios da Série B até os momentos mais rotineiros do dia a dia alvinegro. Contudo, é a lembrança do 30 de novembro que, invariavelmente, ilumina seus olhos.

Percorrer os corredores do Estádio Nilton Santos, para Vitor, é uma imersão nas recordações de um ano extraordinário, 2024. A emoção é palpável, e ele relata ter testemunhado até mesmo adversários admirando o mural alvinegro. O vínculo, que teve início em 2013 como um projeto temporário, estendeu-se por um mês, depois por um ano, e hoje celebra mais de uma década. Nesta terça-feira, 19 de agosto, quando se celebra o Dia Mundial da Fotografia, a relevância de seu trabalho se manifesta em cada detalhe.

A Lente Que Vibra com a História Alvinegra

A experiência de ver suas próprias criações expostas no mural do estádio é um misto de assombro e gratidão para Vitor. "Fiquei muito emocionado, são fotos que a gente, com o passar do tempo, vai mudando. Não tem nem palavras para dizer o que eu senti quando eu olhei. Fiquei meio atônito mesmo, olhando como uma criança durante muito tempo. Um dia trouxe a minha filhinha aqui. Ela estava olhando as fotos e falando 'olha que legal essa aqui'. Eu falei assim: 'é o papai quem tirou todas essas fotos'. Ela congelou durante um momento, acho que ali deu o start na importância da fotografia. Eu sempre falei para ela que papai tem que ir trabalhar, porque é importante os jogadores terem fotos. E aí, quando ela se deparou, ela viu a importância. A fotografia tem essa magia de congelar um momento para sempre", descreveu Vitor.

Definir uma fotografia predileta é um desafio quase impossível para o profissional. Quando solicitado a selecionar dez, ele invariavelmente apresenta 150 opções. Os critérios para essa seleção são multifacetados, abrangendo desde a estética da imagem e a complexidade técnica de sua execução até a relevância do momento capturado. Uma fotografia, no entanto, permanece gravada em sua memória, conquistou o público e ressurgiu com força após a vitória sobre o PSG na Copa do Mundo de Clubes. A busca incessante pelo inusitado culminou em um golpe de sorte: o formato do mapa da América do Sul surgiu perfeitamente na fumaça que ascendia no Nilton Santos, um símbolo premonitório de que a América, ao menos por enquanto, pertence ao Botafogo .

O Clique Inesperado: Ícones de Uma Era Vitoriosa

Na ausência de uma escolha pessoal, a própria torcida assume o papel de curadora. A imagem registrada durante o confronto pelo Campeonato Brasileiro contra o Palmeiras, dias antes da decisão da Libertadores, foi informalmente aclamada como a melhor do ano. Por questões logísticas, Vitor costuma posicionar-se no lado oposto ao da torcida. Naquela partida específica, ele optou por uma mudança estratégica. Durante o jogo, o resultado fotográfico não se destacava. Contudo, ao apito final, com a vitória assegurada, os atletas se dirigiram aos torcedores para celebrar, e desse instante nasceu uma fotografia que hoje também adorna as paredes do Niltão. Dali, a delegação seguiu para Buenos Aires, onde a glória eterna foi conquistada.

Vitor reflete sobre o contraste entre a intensidade do momento e a necessidade de foco profissional: "Quando sai um gol importantíssimo, o mundo está acabando, a torcida, seus colegas, os jogadores, funcionários. Você está ali às vezes até chateado, 'não, não, corre para o outro lado'. Está concentrado em registrar aquele momento que está todo mundo em êxtase para a posteridade dessas pessoas. Muitas vezes eu chego no vestiário depois comemorando e já está todo mundo calmo. Mas tem essa questão de você fazer parte do time também, do grupo. Tem que estar focado o tempo inteiro e não pode se envolver muito emocionalmente naquele momento, mas você está ganhando também."

Por Trás da Emoção: O Profissionalismo no Êxtase

Nenhuma experiência profissional de Vitor Silva no Botafogo se assemelhará ao dia 30 de novembro. Em 24 anos de carreira, a quantidade de jogos que ele teve a oportunidade de registrar é incalculável. Se a vitória sobre o Atlético-MG transcorreu lentamente para a maioria dos torcedores, o tempo voou para o fotógrafo, que se desfez em lágrimas em campo. "Eu fiz o segundo tempo inteiro chorando. Escutei os torcedores depois falando que aquele jogo não acabava nunca. Esse foi dos mais rápidos da minha carreira. Durante esse segundo tempo inteiro eu trabalhei editando, fotografando, mas chorando muito. Chorando com um choro de agradecimento, porque enquanto estava todo mundo agoniado, algo batia no meu peito. Eu só agradeci, porque sabia que era nosso. Isso não tem preço, é viver um sonho. Aquela viagem foi a viagem da vida para todo mundo. Reparação histórica. Porque esse clube, pelos ídolos que tem e a tradição, merecia muito mais momentos como esse."

As imagens produzidas por Vitor Silva ficam eternizadas na memória de milhares de pessoas, mas o rosto do profissional por trás delas nem sempre é reconhecido. No caso de Vitor, a admiração da torcida se concretizou. E, mesmo posicionado atrás das lentes, ele acabou, de forma inesperada, marcando presença na própria fotografia do dia mais significativo de sua trajetória profissional. "Essa é uma foto que eu gosto muito, do Marlon Freitas, nosso capitão. A história dele por si só, casa com a do Botafogo de superação. Acho que esse beijo na taça é uma sensação de dever cumprido maravilhosa. Curiosamente, o fotógrafo nunca aparece nas fotos, mas aqui eu apareci, porque estou refletindo aqui na taça. Esse foi o dia mais feliz da minha vida aqui no Botafogo , sem sombras de dúvidas."

O Reconhecimento Além do Campo: A Essência do Cotidiano

A valorização de seu ofício por Vitor não se restringe aos momentos de glória. Para ele, o dia a dia representa a parte mais gratificante. Tendo vivenciado todas as fases distintas do Botafogo , o fotógrafo guarda com apreço a dedicação demonstrada em cem por cento das situações. "O pessoal costuma dizer que viu que eu estava muito emocionado no jogo da Libertadores. Falei com um amigo meu: eu também estava assim na Série B. Quando subimos, quando a gente estava naquela crise financeira sem saber o futuro do Botafogo direito. Aquilo ali também faz parte da história. Eu poder ser um dos responsáveis por contar a história através do meu olhar, não tem palavras, é realmente muito emocionante", revelou.

A dedicação incondicional de Vitor resultou no reconhecimento por parte da torcida. Ele já teve seu nome entoado em estádios e recebe o afeto dos alvinegros. A faceta menos glamourosa de sua profissão envolve incontáveis horas de trabalho, o transporte de equipamentos pesados, dias afastado da família e escassas horas de lazer. No fim, tudo se mostra recompensador. "Acho que o reconhecimento do torcedor, para mim, é o principal, porque no final de tudo nosso trabalho é e vai ficar para eles. Eu fico lisonjeado quando eu faço alguma viagem e os torcedores vêm falar comigo, cantam o meu nome. Acho que isso faz parte do reconhecimento de um trabalho feito com amor e carinho. E eles amam o Botafogo . Quando você faz uma coisa com amor, acho que eles reconhecem", comentou.

Além de Vitor Silva, a equipe de fotografia do Botafogo conta também com Arthur Barreto, responsável pelas categorias de base e outras pautas do clube. Independentemente de quem realiza o clique, a busca é sempre pela singularidade e pelo impacto visual. "Quando a fotografia emociona, acho que o fotógrafo fez o seu papel. Isso para mim é o mais gratificante mesmo", concluiu Vitor.

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