Renato Paiva Retorna à Fonte Nova com Botafogo: Reencontro com o Bahia Pós-Era City

A Arena Fonte Nova será palco, na noite deste sábado, de um reencontro notável. Às 21h (horário de Brasília), o Bahia recebe o Botafogo em uma partida que transcende o simples duelo por pontos; ela marca o retorno de Renato Paiva ao gramado onde, por nove meses, ele comandou a equipe tricolor.

O Momento de Renato Paiva no Botafogo

Atualmente à frente do Botafogo , para onde retornou ao futebol brasileiro no final de março, Renato Paiva busca imprimir uma nova narrativa em sua carreira no país. Seu período inicial no clube carioca não tem sido isento de desafios; até o momento, o retrospecto aponta para quatro vitórias, dois empates e quatro reveses. Apesar de enfrentar a habitual pressão vinda das arquibancadas, característica do cenário nacional, o técnico português conta com o apoio da cúpula alvinegra. Recentemente, a equipe conseguiu engatar uma sequência de dois resultados favoráveis, incluindo uma vitória expressiva pela Copa do Brasil e um triunfo no clássico contra o Fluminense, após o qual o volante Marlon Freitas veio a público defender o trabalho do treinador.

Contudo, a história mais recente de Paiva no Brasil está intrinsecamente ligada a Salvador e ao Bahia. Ele foi o pioneiro a assumir o comando técnico do clube sob a gestão do Grupo City, um período que se estendeu por nove meses. Sua passagem, longe de ser tranquila, foi marcada por dificuldades em fazer a equipe demonstrar consistência, culminando em seu próprio pedido de desligamento em meio a manifestações de descontentamento por parte da torcida.

A chegada de Paiva ao Bahia, em dezembro de 2022, gerou consideráveis expectativas. O currículo do técnico português, que incluía passagens pelo Benfica e a conquista do campeonato equatoriano com o Independiente del Valle em 2021, sinalizava a aposta do novo grupo gestor em um perfil com experiência internacional e metodologias alinhadas ao projeto.

A Conturbada Trajetória de Paiva em Salvador

Entretanto, a promissora parceria logo enfrentou seus primeiros sobressaltos. A turbulência instalou-se precocemente, com derrotas expressivas que abalaram a relação com a torcida e a credibilidade do trabalho. A goleada de 3 a 0 sofrida contra o Fortaleza na própria Arena Fonte Nova e o vexatório 6 a 0 imposto pelo Sport, este último representando o revés de maior margem na história do clássico regional, colocaram o técnico sob intensa pressão desde os primeiros meses.

Diversos elementos contribuíram para o progressivo desgaste da imagem de Renato Paiva junto à massa tricolor. O desempenho da equipe em campo, caracterizado por uma notável irregularidade e, em particular, por uma fragilidade defensiva alarmante, somado à precoce eliminação na fase inicial da Copa do Nordeste, minaram a paciência dos torcedores. Para agravar a situação, as declarações do treinador em entrevistas coletivas frequentemente geravam atrito. Em um episódio marcante, ao defender suas convicções táticas, Paiva proferiu a controversa frase: "quem manda no clube é o grupo que o comprou", o que foi interpretado como um distanciamento da identidade e da paixão da torcida.

A conquista do Campeonato Baiano trouxe um breve alívio e atenuou temporariamente as críticas. Contudo, esse apaziguamento teve vida curta. Com o início do Campeonato Brasileiro, a equipe voltou a apresentar dificuldades, inserindo-se na luta contra o rebaixamento. A insatisfação atingiu tal ponto que, em julho do ano passado, a principal torcida organizada do clube promoveu um ato público exigindo a saída do treinador.

O Clima Hostil e a Decisão de Sair

Os efeitos da pressão transcenderam o âmbito profissional. Em uma entrevista concedida em junho de 2023, o próprio técnico emocionou-se ao recordar as agressões verbais direcionadas à sua filha nas plataformas digitais, expondo o lado humano do intenso desgaste.

Apesar da evidente turbulência na relação com parte da torcida, a diretoria do Bahia optou inicialmente pela manutenção do comandante. O ponto final na parceria ocorreu apenas em setembro de 2023, por iniciativa do próprio Renato Paiva. Ele explicou que a decisão não foi motivada por um único evento isolado ? como a circulação de uma imagem satírica em redes sociais ? mas sim por um acúmulo de fatores. Naquele momento, o técnico também sentia falta de um respaldo mais contundente por parte da direção do clube diante dos episódios de hostilidade.

Reforçando sua perspectiva sobre a saída, Paiva declarou recentemente em um podcast: "Se diz que saí por um cartaz com as orelhas de burro, não. Era um acumulado, estádio inteiro estar a insultar-te causa mais impacto que um cartaz".

O Sentimento de Paiva Antes do Reencontro

Ao todo, a passagem de Renato Paiva pelo comando técnico do Bahia contabilizou 49 partidas, com um balanço de 19 vitórias, 15 empates e 15 derrotas, resultando em um aproveitamento de 49%. Às vésperas deste reencontro, o treinador abordou a partida e sua relação com o clube baiano.

Em suas palavras, buscando talvez amenizar a tensão do reencontro, Paiva expressou: "O Bahia é parte da minha história. Me abriu as portas para trabalhar no Brasil, tenho muito orgulho daquele escudo, do grupo de jogadores, torcida. Adorei Salvador. A história poderia ser diferente? Sim. Mas foi o que foi e tenho muito respeito. Se eu pudesse nunca jogaria contra a minha história, mas, como não posso, hoje represento o Botafogo com muito orgulho e, obviamente, vou entrar na Fonte Nova com vontade de que o Botafogo jogue bem e ganhe. Mas não é contra ninguém, é pelo Botafogo ".

Neste sábado, sob os olhares atentos da torcida tricolor, Renato Paiva terá a oportunidade de buscar um resultado que, quem sabe, possa começar a escrever um capítulo diferente para ele no futebol brasileiro, contrastando com o desfecho de sua passagem pela capital baiana.