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Renato Paiva, Botafogo e PSG: A Lógica Inesperada do Futebol e o Triunfo Brasileiro

Por Redação FutFogão em 21/06/2025 04:14

O cenário do futebol, frequentemente dominado pela lógica dos orçamentos astronômicos e elencos estelares, foi recentemente abalado por um resultado que desafiou as expectativas mais arraigadas. A histórica vitória do Botafogo sobre o Paris Saint-Germain na segunda rodada da Copa do Mundo de Clubes não foi apenas um triunfo esportivo; representou uma reafirmação da imprevisibilidade que torna o esporte tão cativante. Nesse contexto, a visão do técnico Renato Paiva emerge como um farol de lucidez, oferecendo uma perspectiva crítica sobre o jogo e seus bastidores.

O Futebol: Um Domínio Além da Teoria

A frase que reverberou antes do confronto, "O cemitério do futebol está cheio de favoritos", proferida por Paiva, ganhou contornos de profecia após o apito final. O comandante alvinegro desmistifica a crença de que o sucesso no esporte se resume a equações matemáticas, onde o maior investimento necessariamente culmina em vitória. Segundo ele, a essência do futebol reside justamente na sua capacidade de subverter a lógica. "Quer dizer que muitas vezes a teoria é diferente da prática. E muitas vezes, se há ciência onde 2 mais 2 não são 4, é no futebol. Quis dizer isso mesmo. Às vezes os maiores orçamentos, os melhores treinadores, os melhores jogadores não ganham. O futebol permite isso. É um esporte que te permite finalizar uma vez no gol, sofra 20 finalizações e ganhe de 1 a 0. E muitas vezes essa finalização pode até ser um gol contra (risos). Acima de tudo, antes de a bola começar a rolar, pode-se dizer o que quiser. Pode consultar as estatísticas, as probabilidades, as opiniões mais diversas e subjetivas possíveis. Quando a bola rola e termina (o jogo), há um resultado que vai definir o que muitas vezes contraria essas mesmas estatísticas, esses mesmos favoritismos. A história do futebol está cheia desses momentos em grandes finais, jogos normais de competições do campeonato. É uma das partes da história do futebol", explicou o técnico.

Renato Paiva, Botafogo e PSG: A Lógica Inesperada do Futebol e o Triunfo Brasileiro
Foto: (Vitor Silva/Botafogo)

Reencontros Emocionais em Campo Global

Para Renato Paiva, a vitória contra o PSG carregou um significado adicional: a oportunidade de reencontrar antigos pupilos. Sua extensa carreira, com mais de duas décadas dedicadas às categorias de base do Benfica antes de sua incursão no futebol profissional em 2021, permitiu que ele moldasse talentos que hoje brilham no cenário europeu. Gonçalo Ramos e João Neves, formados na base benfiquista, e o zagueiro Willian Pacho, desenvolvido no Independiente del Valle, eram adversários na ocasião. O contato pós-jogo revelou o profundo respeito e carinho que persiste entre eles.

Paiva descreveu a emoção desses reencontros: "Estive com os jogadores (portugueses do PSG) no fim, trouxe suas camisas e o carinho deles. Não vou dizer agradecimento (pelo impacto nas carreiras). Eles gostam muito de falar em agradecimento, mas digo sempre que eles não têm que agradecer porque são os principais responsáveis. 'Se vocês não quisessem isso e não fossem quem são, não teriam chegado onde chegaram'. Posso dizer, e hoje eu comentava isso com minha comissão técnica sobre a conversa com Pacho e Gonçalo Ramos, com quem tenho uma ligação muito maior... Estavam frustrados pela derrota, mas senti um pouquinho de felicidade no abraço, nas palavras dos dois".

Apesar da frustração pela derrota, a admiração era palpável. Gonçalo Ramos, por exemplo, expressou uma nobreza incomum: "(Gonçalo) me disse 'mister, eu detesto perder, mas se tiver que perder, que seja assim para você. Estou muito feliz por você, porque você merece muito o que está acontecendo'". Willian Pacho, por sua vez, demonstrou uma gratidão ainda mais profunda: "(Pacho) me deu um abraço muito apertado e até emocionado. Ele até me disse 'sonhei muito em ser jogador profissional, sonhei muito em chegar a altos patamares, mas se você me dissesse que eu chegaria tão rápido, eu não acredito. Você foi quem me abriu a porta para eu eu estrear enquanto jogador profissional.' São esses momentos que fazem muito valer a pena o que é a profissão de um treinador de futebol, em especial um que trabalhou na base e que viu estes meninos todos crescerem". Ramos e Pacho foram titulares, enquanto João Neves entrou no segundo tempo.

A Marca do Futebol Brasileiro no Cenário Internacional

A vitória do Botafogo não foi um evento isolado, mas parte de uma sequência de bons desempenhos de clubes brasileiros contra potências europeias. O Flamengo havia superado o Chelsea, e Fluminense e Palmeiras empataram com Borussia Dortmund e Porto, respectivamente. Paiva enxerga nesses resultados uma clara influência do contexto do futebol nacional. "Tem, porque o Botafogo enquanto clube trabalha e desenvolve-se num contexto que é o Brasil, nas competições que se jogam em solo brasileiro. Série A, Copa do Brasil, os estaduais. Você enfrenta jogadores e times brasileiros. Obviamente, este é um trabalho que tem uma marca muito de Brasil. Depois, como disse ontem, o próprio calendário brasileiro da forma como é construído, sendo mega exigente para todos, também tem essa parte positiva de te fazer crescer e encontrar soluções onde os problemas se amontoam. Isso tudo, quando você traz para esse tipo de competição, te ajuda muito. Há uma clara influência do que é o contexto brasileiro. Depois, a qualidade dos jogadores brasileiros, que é o que eu sempre disse que foi a maior e o melhor produtor de jogadores de futebol do mundo acho que desde sempre. E as equipes vão recebendo influência de jogadores de outros países da américa do sul, mas essencialmente a grande marca é do Brasil. Todo esse contexto faz com que as equipes cheguem muitíssimo bem preparadas para a exigência de uma competição deste gênero".

A Complexa Relação entre Torcida, Esporte e Sociedade

Questionado sobre a torcida de outros clubes brasileiros pelos seus rivais em competições internacionais, Renato Paiva oferece uma perspectiva madura e crítica. Ele considera essa solidariedade um comportamento natural e nobre. "Na forma como eu vejo o esporte, acho isso absolutamente normal. Sempre torci para o Benfica e sempre queria que o Benfica ganhasse nas competições portuguesas. Mas quando eram competições europeias, eu queria que os clubes portugueses ganhassem, porque era bom para Portugal. Vejo o esporte dessa forma. E entendo que o verdadeiro torcedor que ama o futebol e o seu país, e que não fica nada atacado na sua paixão pelo seu clube específico em valorizar o outro mesmo que seja rival, só o torna mais nobre. Perceber de fato se há um torcedor que vive no Brasil, e é brasileiro a princípio, que é uma marca que está sendo divulgada diante do mundo todo. Enquanto brasileiro, acho que é um momento de orgulho para todos."

No entanto, o treinador não hesita em apontar as distorções presentes na sociedade e, por extensão, no futebol. "Depois, há os 'antis', mas isso haverá no futebol como há na sociedade. Hoje, infelizmente, você pode fazer 50 coisas ótimas. Se faz uma que não é tão boa, é essa que vai vender, repercutir e ganhar dimensão. Não é um problema do futebol, mas da sociedade, e o futebol não se dissocia. Nossa sociedade hoje está assim, tal como o imediatismo. Hoje Renato Paiva é um gênio, há três dias era um burro. Hoje o jogador X é fantástico, há três dias era perneta. Isso é a sociedade em que há um esporte paralelo a todos os esportes, que é o esporte da razão. Eu quero ter a razão à força, diga o que eu disser. Muitas vezes, você fala contra o seu clube, até espero que não tenha êxito, para que eu tenha razão. Isso é um mal da sociedade que eu não sei como vai ser corrigido. Mas sei como nós, Botafogo e grupo, vivemos com isso: fechados, não ouvindo absolutamente nada que te ponha na Lua ou cá embaixo. Nós precisamos de equilíbrio. E até já contextualizando, precisamos jogar o último jogo para ganhá-lo e passar de fase, o que ainda não fizemos."

Momentos Marcantes de uma Carreira em Ascensão

Ao refletir sobre os dias mais significativos de sua trajetória profissional, Renato Paiva elenca três momentos cruciais. O primeiro, e mais fundamental, foi sua entrada no Benfica, que marcou o início de sua longa jornada no esporte. O segundo, a conquista do título com o Independiente Del Valle, sua primeira experiência no futebol profissional e internacional, ressaltando a quebra de favoritismos e a escrita de uma nova história para o clube equatoriano. E, por fim, a vitória sobre o PSG, pela magnitude do feito e sua ressonância global. "O dia mais importante em questões profissionais foi quando entrei no Benfica e comecei todo este trajeto. O segundo dia mais bonito que tive foi quando fomos campeões no Independiente Del Valle, não sendo uma equipe favorita e sendo a minha primeira experiência no exterior no futebol profissional. Começar assim foi marcante, fazendo história em um país e um clube que nunca tinha sido campeão. O terceiro momento de maior impacto é este (PSG 0 x 1 Botafogo ) pela magnitude do feito, pela repercussão mundial, onde chegou esta notícia. São os três momentos que coloco em um mesmo patamar, mas com sentimentos diferentes."

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Tiago

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Comentado em 21/06/2025 07:21 Estou tão feliz! Renato Paiva tá fazendo história, isso representa o nosso Botafogo! Vai, Fogão!
Carlos

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Comentado em 21/06/2025 05:44 Maluco! Botafogo manda no PSG, quem diria? Kkkk. É pra vibrar, muleque!
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