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A Saga de Quarentinha: De Belém ao Ídolo Imortal do Botafogo
Por Redação FutFogão em 01/02/2025 04:12
O Legado de um Artilheiro Imortal
O Botafogo, em sua jornada rumo à Supercopa Rei, que será disputada em Belém, reacende a chama da história com a cidade paraense. A capital, palco do confronto contra o Flamengo, também é o berço de Waldir Cardoso Lebrego, o Quarentinha, o maior artilheiro da história do clube. A relação do Alvinegro com Belém vai além de um simples jogo, é uma conexão com as raízes de um de seus maiores ídolos.
Ao pisar no gramado do Mangueirão, a nova geração de talentos do Botafogo , impulsionada pelas conquistas do Campeonato Brasileiro e da Libertadores, buscará o primeiro título nacional de 2025. No entanto, a história de Quarentinha, nascido em Belém há 92 anos, paira sobre o clube, como um farol que ilumina o caminho de cada jogador.
Infância Humilde e Paixão pelo Futebol
A trajetória de Quarentinha, um homem de semblante sério e poucas palavras, é marcada por uma infância humilde e pelo amor incondicional ao Botafogo . A cidade de Belém, com seu porto movimentado e o auge do Ciclo da Borracha, foi o cenário de seus primeiros passos. Filho de Luís Gonzaga "Quarenta" Lebrego, ídolo do Paysandu, Quarentinha cresceu em meio a uma família numerosa e a adversidades.
A perda precoce de sua mãe, Myrthes, aos 24 anos, deixou marcas profundas em sua alma, levando-o a evitar velórios, com exceção dos enterros do pai de Garrincha e de João Saldanha. Criado pelos avós maternos, Antônio e Alcênia, e sob a tutela do tio José, Quarentinha encontrou no esporte um refúgio e uma paixão.
A proximidade com os estádios do Paysandu e do Remo, fez com que Quarentinha fugisse constantemente para jogar peladas, apesar da pobreza e das poucas roupas que possuía. A venda de mangas, fruto das árvores do quintal de seu tio, era uma forma de complementar a renda familiar. Belém, a "cidade das mangueiras", fazia parte da vida do craque.
O Apelido e a Ligação com o Botafogo
O apelido Quarentinha é uma herança de seu pai. No Instituto Lauro Sodré, onde ambos estudaram, os alunos eram identificados por números. Luís era o Quarenta; seu filho Waldir, portanto, foi chamado de Quarentinha. O prédio, hoje, abriga o Tribunal de Justiça do Estado do Pará.
A escola, de forma indireta, estabelece mais um elo entre Quarentinha e o Botafogo . Mimi Sodré, também paraense, nascido em Belém em 1892 e bicampeão carioca pelo Alvinegro, era filho do abolicionista que empresta seu nome ao internato onde Quarentinha estudou. No entanto, a paixão de Quarentinha sempre foi a bola, deixando de lado a rigidez do colégio.
Apesar de não haver comprovações da influência direta de seu pai, Quarentinha conseguiu uma vaga no time juvenil do Paysandu. "Provavelmente, as coisas foram mais fáceis por ele ser filho do Quarenta. Não há relato de que o pai tenha mexido pauzinhos, já que não jogava mais bola na época que o filho entrou. Mas o Quarenta ia a todos os jogos, cobrava muito do Quarentinha." Relata Rafael Casé, autor da biografia do jogador.
A Chegada ao Rio de Janeiro e a Glória no Botafogo
Após defender o Paysandu, Quarentinha seguiu para o Vitória, onde se destacou. Em uma excursão pelo Brasil, o atacante marcou três gols em dois jogos contra o Botafogo , o que chamou a atenção de Nilton Santos e do técnico Gentil Cardoso, que recomendaram sua contratação. Sua estreia com a camisa alvinegra aconteceu em junho de 1954.
Nos primeiros momentos, entretanto, Quarentinha não correspondeu às expectativas. Após ser emprestado ao Bonsucesso, onde se destacou marcando gols em quase todos os jogos, Quarentinha retornou ao Botafogo a pedido de João Saldanha. Em 1957, o Alvinegro conquistou o Campeonato Carioca, título que não vencia desde 1948. Na final contra o Fluminense, Saldanha designou uma nova função para Quarentinha, marcar o craque Telê Santana, e o Botafogo venceu por 6 a 2.
Com 313 gols em 444 jogos, Quarentinha se tornou o maior artilheiro da história do Botafogo . Em 1964, entretanto, o clube informou que não tinha interesse em renovar seu contrato. Aos 30 anos, e mesmo com passagens pela seleção brasileira, o artilheiro perdeu espaço no futebol da época. A proibição de jogadores entrarem pela porta social do clube também contribuiu para a mágoa de Quarentinha com o Botafogo .
?Em vários clubes, os jogadores também não podiam entrar pela entrada social, como era o caso do Botafogo . (...) Muitas vezes, essas coisas desgastaram o Quarentinha, porque ele achava que não teve o reconhecimento pelo tanto que fez. Ele sai em 1964 quando praticamente poderia ter sido titular na Copa de 1962?, acrescenta Rafael Casé.
O Reencontro Emocionante e o Legado Imortal
Após deixar o Botafogo , Quarentinha atuou na Colômbia, onde recebeu o apelido de Maestro. De volta ao Brasil, atuou por clubes de menor expressão em Santa Catarina. Lá, "desapareceu" para a família, até ser encontrado por Nilton Santos, que o viu trabalhando como estivador. O reencontro com a família e o retorno ao Rio de Janeiro foram momentos de emoção.
A seriedade e a timidez eram marcas registradas de Quarentinha, que não gostava de comemorações efusivas. No entanto, no reencontro com o Botafogo , na festa de retorno do clube à sede de General Severiano, em dezembro de 1995, o artilheiro se entregou à emoção. "O Quarentinha recebeu o convite, não queria ir, mas foi convencido pela filha e pela neta. Ali, acho que selou um pouco as pazes com o Botafogo . Ao chegar, as pessoas começaram a reconhecê-lo, mesmo muito diferente aos 60 e poucos anos. Tinha cara de muito mais (velho), foi uma vida sofrida." Relata Rafael Casé.
A emoção do reencontro foi tão grande que, segundo a família, teria influenciado o fim da vida do craque. "Ele chegou em casa muito feliz. Na mesma noite, teve um mal súbito e foi internado. Chegou a receber alta no começo de janeiro, mas voltou para o hospital e não saiu mais. O que a família fala é que a emoção daquele dia, provavelmente, fez com que ele passasse mal. No final, Quarentinha viu que o trabalho feito tinha sido reconhecido."
Neste domingo, o Botafogo tem mais uma oportunidade de honrar a memória de Quarentinha. No Mangueirão, o Alvinegro enfrenta o Flamengo, em busca do título da Supercopa Rei. O duelo, que reúne os campeões do Brasileiro e da Copa do Brasil de 2024, será um momento para celebrar a história de um ídolo que transcendeu o tempo e o espaço.
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