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Marlon Freitas: A Jornada de Superação e Conquista da Libertadores com o Botafogo
Por Redação FutFogão em 05/12/2025 10:16
Marlon Freitas, um pilar fundamental nos bastidores do Botafogo, revela-se um indivíduo notavelmente reservado fora das quatro linhas. Raramente concedendo entrevistas, exceto em breves instantes à beira do gramado, o volante surpreendeu ao aceitar um diálogo extenso, de quase três horas, para a série "Abre Aspas" do ge, marcando uma de suas mais profundas exposições públicas.
Por trás da postura firme e, por vezes, contestadora em campo, reside um homem de sensibilidade notória. Sua infância, dividida entre as realidades de São Gonçalo e Magé, moldou um percurso que o levou a cruzar o Brasil em busca do ideal de se tornar atleta. A perda do pai, sua maior inspiração, ocorreu em um momento de consolidação no Fluminense. Uma série de empréstimos e uma transformação em sua mentalidade precederam sua chegada ao Botafogo .
A sequência de sua trajetória no Alvinegro pareceu traçada pelo destino. Consagrado campeão e capitão na memorável conquista da Libertadores de 2024, Marlon solidificou sua posição como uma das referências inquestionáveis do clube. Superando um ano de 2023 repleto de desafios ? desde a inesperada queda no Campeonato Brasileiro até o polêmico episódio da "piscadinha" ?, o meio-campista orquestrou uma ressurreição silenciosa. Agora, sua intenção é compartilhar mais de sua jornada, na esperança de que sua vivência inspire as novas gerações.
Perfil e Conquistas de Marlon Freitas
Para contextualizar a trajetória deste atleta, apresentamos um breve panorama de sua ficha técnica:
| Detalhe | Informação |
|---|---|
| Nome Completo | Marlon Rodrigues de Freitas |
| Idade | 30 anos |
| Profissão | Jogador de Futebol |
| Clubes na Carreira Profissional | Fluminense, Fort Lauderdale Strikers, STK Samorín, Criciúma, Botafogo-SP, Atlético-GO, Botafogo |
| Títulos Relevantes | Conmebol Libertadores (2024), Campeonato Brasileiro (2024), Campeonato Goiano (2020 e 2022) |
A Voz Silenciosa que Lidera o Glorioso
Questionado sobre sua aversão a entrevistas, Marlon Freitas reflete sobre sua natureza reservada, mas reconhece a importância de sua figura pública. "Acho que é uma coisa minha, sabe? Nunca gostei, mas é algo que tô trabalhando. Aos poucos, tô entendendo essa ideia de influenciar", pondera. Ele destaca o carinho de seus admiradores, tanto pelo atleta quanto pela pessoa, e a responsabilidade que sente como capitão, especialmente em momentos de adversidade. Ele acredita que em fases vitoriosas, outros companheiros também merecem o holofote.
Freitas observa a crescente influência do atleta para além do campo, abrangendo patrocínios e estilo de vida, algo que admira em jogadores internacionais. Contudo, seu lado reservado busca preservar a família. "Eu tenho essa coisa reservada de família, é algo que eu tento preservar. Não quero e não vou deixar isso, principalmente no momento difícil do jogador, ter essa influência diretamente na minha família", explica, enfatizando a necessidade de separar a vida pública da pessoal. "Sou ser humano, choro, dou risada como todo mundo."
O jogador revela que sua imagem está sendo trabalhada para uma maior comunicação, visando conectar-se com aqueles que o admiram. "Muitos não têm essa oportunidade, talvez por eu não me expressar tanto. Outras, não sei (risos), porque dentro do campo eu sou um cara muito chato", brinca. Ele reconhece a pressão familiar para aproveitar o momento e a dimensão do que representa, um entendimento que, admite, talvez ainda não tenha plenamente.
Ao abordar sua infância, Marlon expressa profunda gratidão: "Tive uma infância boa, meus pais nunca deixaram faltar nada, mas também não foi fácil. Fizeram de tudo. Se estou onde estou, é graças aos meus pais e a muitas pessoas que acreditaram, e às que não acreditaram também." O pai, falecido, permanece um guia constante, enquanto a mãe desfruta hoje do fruto de seus sacrifícios. Ele se identifica com a união familiar, fundamental nos momentos bons e, especialmente, nos difíceis, como o ano de 2023, quando a família se manteve unida.
O Legado de "Menos Enterros, Mais Formaturas"
A divisão da infância entre São Gonçalo e Magé, após a separação dos pais por volta dos oito ou nove anos, marcou a vida de Marlon. Magé, seu berço e lar de amigos e liberdade infantil, contrastava com São Gonçalo, onde a mãe, mais rígida, temia as influências negativas. "Era uma alegria imensa quando meu pai, sexta à noite, saía do trabalho em São Cristóvão e ia direto para São Gonçalo me buscar. Era a minha felicidade", recorda. Com o tempo, a mãe flexibilizou e Magé manteve um lugar especial em seu coração.
São Gonçalo, no entanto, foi o ponto de partida para sua carreira no futebol, com mais oportunidades em escolinhas e testes em clubes. "Deus sabe o que faz. No momento (da separação dos pais), fiquei triste, mas faz parte. Sempre que posso, tento estar presente nos dois lugares", afirma. Hoje, em Piabetá, Magé, ele se dedica às irmãs mais novas, uma missão deixada pelo pai. Ele percebe que sua história inspira crianças em ambas as cidades, que reconhecem a dificuldade de sua jornada.
Marlon apoia um projeto em São Gonçalo, o "Primeira Chance", cuja máxima "frequentar menos enterros e mais formaturas" o tocou profundamente. "Acho que é esse fato de poder me expressar mais, aparecer mais, falar um pouco mais disso. Não somente do futebol, porque há muitas crianças que me admiram, que olham e falam 'se ele conseguiu, de onde ele veio, eu também posso conseguir'", explica, destacando sua participação na Taça das Favelas pelo Complexo da Coruja, onde o projeto está inserido.
A frase sobre "enterros e formaturas" ressoa com a influência que ele deseja exercer. Para crianças de comunidades, ter um espelho que "saiu dali" é crucial. Ele enfatiza a base familiar e o apoio de pessoas que acreditam, algo que muitas crianças carecem. O projeto, liderado por Douglas, um homem com uma história de superação, busca auxiliar esses jovens. Marlon, impossibilitado de estar sempre presente, apoia à distância e vê nas redes sociais uma ferramenta para divulgar tais iniciativas, na esperança de que mais pessoas se identifiquem e contribuam.
A Trajetória de um Sonhador: Da Rua ao Maracanã
Desde a mais tenra idade, o futebol dominou a vida de Marlon. "Se alguém um dia fizer uma entrevista com a minha mãe, ela vai falar que eu larguei o carrinho por causa da bola", ele conta. Seu pai foi a maior inspiração, levando-o para os campos, onde Marlon, ainda criança, atuava como gandula. Essa rotina dominical, entre pão na padaria e bola, era sagrada. O pai, que teve a chance de ser jogador, mas não seguiu por receio familiar da época, depositou em Marlon a esperança de realizar seu próprio sonho. "Vi que eu gostava mesmo, e consegui realizar o sonho dele de me ver jogando em um dos maiores palcos do futebol, no Maracanã", emociona-se.
Apesar da ausência do pai em suas maiores conquistas, Marlon carrega o legado. "Eu jogo bola por causa do meu pai, eu falo. Eu jogo bola pela minha família hoje, lógico, para dar um futuro melhor para eles. Porque eu gosto também, mas principalmente pelo meu pai", declara. Antes de cada partida, ele mentaliza a presença do pai em campo, convicto de seu orgulho. A maturidade o ensinou a tomar decisões pensando não apenas em si, mas na família e no clube, reafirmando que a família é "tudo, tudo, tudo, tudo mesmo".
Sua formação não se limitou ao Rio de Janeiro. Em São Gonçalo, Marlon dividia a semana entre a escola e treinos em diversas escolinhas. A primeira grande oportunidade surgiu no Carnaval, quando um convite para Curitiba mudou seu destino. "Eu nunca tinha saído de casa, do estado do Rio de Janeiro. E falei 'quero'", relembra, mesmo sem conhecer as condições. Seus pais, com sacrifício, viabilizaram a viagem. Em Curitiba, integrou uma equipe sub-17 mantida por investidores, compartilhando uma casa com outros 12 meninos e um casal responsável.
A adaptação foi um desafio. "Eu chorava muito à noite, mas não dava para contar para minha mãe", confessa, temendo que ela o buscasse. Ao pai, porém, expressava a dificuldade, mas reafirmava o desejo de permanecer. Superou a saudade e seguiu para o Osoriense, no Rio Grande do Sul, para jogar o Gauchão sub-17. As condições eram espartanas ? um galpão dividido, camas lado a lado, mais de 20 pessoas. "Se eu aguentar ficar aqui, eu vou passar por qualquer situação", pensou. Destacou-se, tornando-se capitão pela primeira vez, e essa experiência o levou ao São José para o Campeonato Brasileiro sub-17.
Resiliência em Tempos de Adversidade: Lições da Europa e EUA
No São José, Marlon se destacou, chamando a atenção de clubes maiores. Após um bom desempenho na Copa Santiago, onde atuou como zagueiro, assinou com um empresário renomado. Foi então que o Fluminense o observou em um amistoso e o trouxe por empréstimo. Curiosamente, anos antes, quando jogava nas escolinhas em Niterói, havia sido dispensado de um período de testes em Xerém. "Lembro que eu falei isso para o meu pai, por tudo que é mais sagrado: 'Ainda vou voltar aqui'", recorda. Seu retorno ao Fluminense, de 2013 a 2019, período que incluiu diversos empréstimos, foi a concretização dessa promessa.
Um desses empréstimos o levou ao Fort Lauderdale Strikers, nos Estados Unidos, um projeto do ex-jogador Ronaldo. A barreira da língua foi o primeiro grande desafio. "Não sabia falar nada (de inglês). Nada, nada, nada", ri. A convivência com outro brasileiro e a presença de muitos sul-americanos facilitaram a adaptação. Durante dez meses, aprendeu sobre a cultura e a língua no dia a dia, com a ajuda de um professor brasileiro, apesar das aulas que "matavam" após os treinos. A experiência, na segunda liga (NSL), foi de grande destaque para ele.
Em seguida, veio a Eslováquia, uma realidade completamente distinta. Em janeiro de 2017, com outros brasileiros da base do Fluminense, Marlon enfrentou o inverno europeu. "Eu nunca tinha visto a neve, mano. Sempre esse calor aí do Rio de Janeiro", descreve. A dificuldade de adaptação ao frio intenso, treinando com múltiplas camadas de roupa, impactou sua performance. "Não é meu forte, nada que me prende assim. Tento jogar o mais solto possível", explica. A observação de uma senhora que desfrutava da neve diariamente o fez refletir sobre a relatividade das dificuldades.
De volta ao Fluminense em junho de 2017, sob o comando de Abel Braga, Marlon finalmente estreou no profissional, realizando o sonho do pai de vê-lo jogar no Maracanã. Aquele período marcou o início de uma fase mais difícil. Seu último jogo pelo Fluminense, no Engenhão, pela Copa do Brasil contra o Avaí, foi um ponto de inflexão. "Eu participo da jogada do segundo gol do Avaí. Entro no segundo tempo, eu roubo a bola, adianto um pouco, o jogador do Avaí pega a bola e dá para o cara. A partir dali, as coisas começaram a ficar difíceis pra mim", relata. A passagem pelo Criciúma, na Série B, foi um período de busca por minutos em campo, adaptando-se a novas posições e realidades.
A Virada de Chave no Atlético-GO e a Dor Irreparável
A verdadeira "virada de chave" para Marlon Freitas ocorreu em 2019, no Botafogo de Ribeirão Preto. Em seu último ano de contrato com o Fluminense, ele via ali a chance de se tornar um jogador livre e escolher seu próprio destino. "Eu não podia ser só atleta, eu tinha que ser profissional", pensou. A experiência na Série B o fez aprimorar sua alimentação e cuidados, com o objetivo de retornar à Série A. Após uma excelente temporada no interior paulista, recebeu diversas propostas, incluindo uma de um time da Série A para 2020. No entanto, analisando as contratações do clube, optou por não arriscar a titularidade.
Uma proposta financeiramente superior de um time da Série B o seduziu, mas o destino interveio. Adson Batista, presidente do Atlético-GO, ligou para seu empresário. Em uma videochamada, Marlon aceitou o desafio da Série A. "Era o meu momento de crescer, de voltar pra Série A, de mostrar o meu valor", explica, ressaltando que a decisão não foi financeira. Os três anos no Atlético-GO foram de afirmação e aprendizado intenso sobre o profissionalismo. "O Atlético-GO foi o clube em que eu mais trabalhei na minha vida", afirma, grato pela estrutura e confiança oferecidas. A conexão com os funcionários e o "carinho das pessoas" são fundamentais para ele.
Antes de sua chegada ao Botafogo , um evento pessoal impactou profundamente sua carreira: a perda do pai. A imagem do pai, um homem forte e saudável, foi abalada pela descoberta do câncer. Marlon, então no Fluminense, acreditava que o dinheiro poderia ajudar na cura, mas percebeu a limitação da riqueza diante da doença. "Dinheiro não salvou meu pai, pô", lamenta. A dor de ver o pai definhar, a quimioterapia diária, tudo isso mudou sua perspectiva. "Nem tudo é dinheiro, tem coisas mais valiosas do que isso."
Na semana de um jogo contra a Chapecoense, Marlon visitou o pai no hospital, expressando o desejo de não viajar. "Ele falou 'não, vai'", relembra. O pai, talvez pressentindo o fim, insistiu para que ele jogasse. Dois voos cancelados impediram seu retorno ao Rio a tempo. No hotel em Chapecó, a notícia da morte chegou por mensagem da irmã e o abraço dos companheiros Scarpa e Luquinhas. "Eu só chorava, chorava, chorava", conta. Decidido a jogar pelo pai, comunicou a Abel Braga: "professor, quero jogar. Vou jogar pelo meu pai". No vestiário, a tristeza era palpável, mas uma visão no céu durante o minuto de silêncio ? uma nuvem com o rosto sorridente do pai ? trouxe uma mensagem de força: "Se você quer me representar, além da base familiar, é aí que você tem que estar".
Botafogo: Da "Piscadinha" ao Abraço da Glória
Ao abordar o conturbado ano de 2023, Marlon Freitas reconhece o erro da "piscadinha" contra o Palmeiras. "Eu sei da minha responsabilidade. Sei que eu errei. Não gosto de falar disso, mas foi um erro meu. Aquilo não é o Marlon e você nunca mais vai ver isso acontecendo", garante. O gesto, que muitos interpretaram como provocação ou soberba, gerou expectativas de repetição nas comemorações de 2024, mas ele optou pelo silêncio. Aquele episódio, somado à queda de rendimento da equipe, marcou-o profundamente. Ele ponderou sobre um pedido de desculpas público, mas concluiu que o silêncio e o trabalho seriam a melhor resposta. "Não sou de ficar dando explicação para ninguém, sou de ir lá e fazer. Foi o que eu fiz", afirma, revelando o sofrimento pessoal que enfrentou.
A sugestão de Casemiro sobre o afastamento das redes sociais durante a Copa ressoa com a atitude de Marlon. Ele se dedicou à leitura, afastando-se propositalmente da internet por períodos. O técnico Davide Ancelotti lhe presenteou com um livro sobre liderança, que o inspirou. As pichações no estádio, contudo, o atingiram mais profundamente do que as críticas online. "Na internet está tudo certo, você bota o que você quiser. Se você quiser falar mal, tu vai falar. Mas quem passar (no estádio pichado) vai ver, mano", desabafa. A resposta à pecha de "pipoqueiro" veio em campo: "Se continuar aqui, tu vai ter que ir lá e vai ter que fazer, irmão. Você vai ter que ir lá e vai ter que fazer, acabou."
A experiência de 2023 transformou sua liderança. Ele buscou entender a reação das pessoas ao seu redor, no dia a dia do clube. "Eu queria saber o comportamento das pessoas que estavam no meu cotidiano. Como eles iriam me tratar?", questionou. A confiança e o apoio recebidos internamente foram cruciais. "Parece que eles me pegaram e botaram no colo. 'Vem cá, filho. A gente confia em você'", descreve. Antes da derrocada, ele não exercia a mesma liderança, mas foi no momento mais difícil que começou a falar, inspirando o lema "um por todos, todos por um". O convite de Tiago Nunes para integrar a liderança foi um divisor de águas. "Em nenhum momento eu botei para trás, sou sujeito homem. Tô dentro."
A faixa de capitão, usada pela primeira vez no Raulino de Oliveira, foi motivo de orgulho para a família. "Não é porque eu sou legal, não. É porque eu trabalho muito e sou bom naquilo que eu faço. É porque eu olho pelas pessoas também", enfatiza. As vaias no início do Carioca de 2024 foram dolorosas, mas ele manteve a fé. "Eu sabia que tinha algo guardado pra mim e pro Botafogo ", afirma, acreditando que os momentos difíceis precedem grandes colheitas. A dor de 2023, apesar de intensa, fortaleceu-o e aproximou-o dos companheiros. "Hoje eu falo que eu suporto qualquer coisa", declara, grato pelo reconhecimento interno e pela capacidade de ser simplesmente "o Marlon".
Artur Jorge: O Catalisador da Conquista Imortal
A transição de 2023 para 2024 encontrou em Artur Jorge um dos pilares para a permanência de Marlon Freitas no Botafogo . Após uma derrota para a LDU, no Equador, Artur sentou-se ao lado do volante no aeroporto e, com firmeza, declarou: "já estou te falando que você não vai sair. Falei com a diretoria, e eu preciso trabalhar com os melhores". Essa demonstração de confiança foi um alento para Marlon, que buscava um ambiente de apoio após os desafios do ano anterior. "Consigo ler quando é verdade ou quando a pessoa quer me sabotar", pontua, reconhecendo a sinceridade do treinador.
A relação com Artur Jorge transcendeu o profissional, transformando-se em uma amizade. O técnico português, além de aprimorar seu jogo, blindou-o das críticas sobre 2023, direcionando o foco para o presente. "Além de eu ter um mental forte, eu tinha um líder", avalia Marlon, destacando a conexão "de líder para líder", evidente em momentos como a preleção antes do jogo contra o Palmeiras. A gratidão a Artur é imensa, por ter renovado sua esperança em sonhos, inclusive o de chegar à Seleção Brasileira. "Foi um dos caras mais importantes da minha permanência", afirma.
A influência de Artur Jorge foi decisiva para que Marlon permanecesse no Botafogo , mesmo diante de uma proposta do Vasco. "Realmente teve a procura (do Vasco), me reuni com a diretoria e meus representantes", confirma. Contudo, o amor pelo ambiente e o tratamento recebido no clube pesaram. "Eu amo esse ambiente e esse clube, sou muito bem tratado aqui dentro, e não tem nada que pague isso", explica. A necessidade de carinho após o difícil 2023 foi atendida pelo treinador, que garantiu: "Pode esquecer, eu sei que você quer ficar e vou te fazer um jogador melhor".
Marlon busca extrair o melhor de cada treinador. Tiago Nunes, por exemplo, foi crucial ao confiar-lhe a liderança em um momento de perseguição. Artur Jorge, porém, foi a peça-chave para sua renovação de contrato e permanência. "Se (Artur Jorge) não foi a peça principal, foi um dos mais importantes junto com a direção e o John Textor. A todo momento, teve pulso firme para eu ficar. Que bom que eu fiquei", celebra, consolidando seu vínculo com o Botafogo .
O Botafogo de Marlon: Eternizando a Estrela Alvinegra
A escolha de permanecer no Botafogo foi coroada com o título da Libertadores. Marlon assiste à final repetidamente, e a emoção é constante. "As crianças lá em casa botam direto e me dá vontade de chorar toda vez", confessa, um misto de riso e lágrimas. Para ele, tirando o dia em que o pai o viu estrear profissionalmente, a Libertadores foi o melhor dia de sua vida. "Se Deus quiser vamos ganhar outra, mas não vai ser a mesma emoção. Ganhar algo sempre é bom, mas a primeira é especial."
O nervosismo durante a final é um sentimento real. A Libertadores de 2024 foi sua primeira, e a inexperiência o fazia ponderar sobre as consequências de uma não classificação, que seria somada ao fracasso de 2023. A trajetória, da pré-Libertadores ao título, foi árdua. "Se a gente não se classifica, as pessoas juntariam com 2023 e falariam em fracasso", admite. A equipe, que começou com uma derrota em casa para o Junior Barranquilla, aprendeu a jogar a competição e se classificou com antecedência. "O time já era bom, 2023 deu muita esperança. Faltava apenas ajustar algumas coisas que foram ajustadas para fazer o ano mágico que fizemos."
A sensação de "é campeão" começou a surgir após a vitória sobre o Palmeiras nas fases eliminatórias. "Ali a gente tinha o grupo fechado e eu já sentia 50% a 60% (chance de ser campeão)", revela. O Botafogo , o único time sem Libertadores no chaveamento, aprendeu no caminho. Aquele jogo, repleto de drama, fortaleceu a crença interna. Após eliminar o São Paulo, a confiança saltou para "90% (achismo do título)". A maior preocupação, surpreendentemente, foi o Peñarol, especialmente o jogo de volta após a goleada por 5 a 0 na ida.
Marlon confessa a preocupação com o jogo de volta contra o Peñarol, mesmo com a ampla vantagem. "Em nenhum jogo jogamos com vantagem (risos). Como seria o Botafogo nesse cenário?", questionou, lembrando as lições de 2023. A contenção das comemorações por Artur Jorge e pelos líderes foi crucial. A possibilidade de ter jogadores pendurados, o risco de um gol precoce do adversário, tudo isso gerava apreensão. A mensagem interna era de foco total, mesmo em meio a um clima de "guerra" após incidentes com torcedores no Rio. "A mensagem que eu passo é sobre soldados (risos)", explica.
A final contra o Atlético-MG teve seu próprio drama. Artur Jorge, que costumava fazer as preleções no hotel, optou por fazê-la no vestiário, focando na trajetória de superação de cada jogador. "Ele fala do time e daqui a pouco ele fala 'Sabe por que estamos aqui? Porque você não desistiu em 2023'", relembra Marlon, descrevendo a emoção que tomou conta de todos. No reconhecimento do gramado, um dia antes, ele tocou o centro do campo e declarou: "Deus, aqui é a terra prometida, vou ser campeão aqui". O discurso final, carregado de lágrimas e referências ao pai, uniu o elenco em uma confiança inabalável. "Realmente acho que ganhamos o jogo no vestiário. Os olhos de todos brilhavam."
Os primeiros 40 segundos da final foram de tranquilidade, até a expulsão de Gregore. "Eu estava de frente. Tuf! Eu vi o jogador (Fausto Vera) e vi sangue", conta Marlon, que tentou argumentar com o árbitro. Sua confiança na "terra prometida", na superação do "deserto de 2023", era inabalável. Artur Jorge, em um gesto, o reposicionou para a zaga. Na rodinha de conversa, Marlon exortou os companheiros: "Sempre foi difícil para nós, sempre foi para o Botafogo . A gente vai ser campeão assim. Acreditem que seremos campeão. Todo mundo vai fazer um pouquinho a mais". A aplicação tática de jogadores como Almada, Luiz, Savarino e Igor foi "surreal", culminando em uma vitória histórica com um jogador a menos durante quase toda a partida. "Tinha que ser. É o Botafogo . Ser botafoguense não é fácil, mas é gostoso."
A Libertadores, eternizada em sua pele com uma tatuagem, foi uma recompensa inesperada. "Eu sabia que tinha algo para o Botafogo , mas confesso que não sabia que era a Libertadores", admite. Sua ambição inicial era o Campeonato Brasileiro de 2023, que escapou. A conquista da Libertadores, um ano depois, confirmou que "valeu a pena suportar tudo e ficar calado". A emoção ao descer as escadas após o apito final, a conversa com o pai em pensamento, tudo se uniu em um "combo" de orgulho e gratidão. "Não sei descrever para vocês, acho que não vou conseguir viver de novo."
Marlon Freitas hoje se considera botafoguense, assim como sua família. A gratidão ao clube é imensa, pelo suporte em todas as áreas da vida e pela oportunidade de desfrutar de uma trajetória incrível. "É o Botafogo que bota o alimento na minha casa hoje, é o Botafogo que me dá todo o suporte para desempenhar melhor", reconhece. Sua visão sobre 2025, um ano de oscilações individuais e coletivas, é crítica. Ele aumentou os investimentos em si mesmo, mas reconhece que a saída de muitos jogadores e as comparações foram prejudiciais. "Não tem isso. É um contexto totalmente diferente", afirma.
A cada ano, o "sarrafo aumenta", e a expectativa para 2026 é ainda maior. Marlon acredita que o Botafogo encontrou um equilíbrio e entendeu o caminho para as conquistas. "O Botafogo tem que estar na Libertadores todo ano, isso tem que estar na raiz do clube", defende. O aprendizado de 2023, 2024 e 2025 deve ser a base para um futuro vitorioso. "Tem que ser campeão, não pode ser menos que isso. Se vai ser, é outra história. Mas tem que brigar, tem que estar enraizado", conclui, estabelecendo a mentalidade para os próximos anos.
Sobre seu futuro, Marlon Freitas é objetivo: "O futuro do Marlon Freitas no Botafogo é classificar o time para a Libertadores (risos)". Com mais um ano de contrato, ele expressa sua felicidade e ambição de continuar realizando grandes feitos. "Quero ajudar, tenho muita ambição de fazer grandes coisas aqui, quero ajudar essas pessoas, sinto que elas continuam acreditando em mim em fazer o clube voltar a fazer coisas grandes", declara. O futuro do clube, e consequentemente o seu, depende do desempenho anual. Ele agradece a confiança, carinho, respeito e as cobranças que o moldam. "Minha família está em casa e sei que o futuro é glorioso. O futuro é grandioso para o clube."
Marlon finaliza com um pedido a Deus para que o Botafogo continue crescendo, com boas pessoas e decisões acertadas. A mentalidade de "família Botafogo " deve ser cultivada e expandida. "O Botafogo tem um futuro grandioso e eu quero participar disso, mas não depende só do Marlon. A gente precisa terminar o ano da melhor forma e vamos ver o que vai acontecer. Sou muito grato. Estou desfrutando."
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