Marçal: Pilar de Experiência e Versatilidade no Botafogo da Libertadores

No cenário do futebol contemporâneo, onde a juventude por vezes domina as pranchetas técnicas, a figura de Marçal no Botafogo apresenta um paradoxo intrigante. Aos 36 anos, o lateral-esquerdo ostenta uma longevidade que o posiciona cinco meses à frente de seu próprio comandante, o italiano Davide Ancelotti. Essa singularidade, contudo, longe de ser um obstáculo, parece solidificar sua relevância no elenco alvinegro, especialmente com o iminente confronto pelas oitavas de final da Conmebol Libertadores contra a LDU, em solo equatoriano.

A percepção do próprio atleta sobre essa dinâmica é de profunda sinergia. Em declarações concedidas durante a concentração em Quito, Marçal sublinhou a eficácia de sua bagagem profissional na relação com a comissão técnica, tanto a atual quanto a anterior. A idade do treinador, para ele, é um detalhe irrelevante diante da competência demonstrada.

A experiência que eu tenho funciona com o Davide. Funcionava também com o Luís Castro, que nem era tão velho assim, mas tinha muito cabelo branco (risos). Davide, independente da idade, já é muito experiente por ter rodado muito e trabalhado com muitos jogadores. Ele tem entregado muita coisa bacana e nova que os anteriores não conseguiram passar para a gente.

A Sinergia Entre Experiência e Nova Liderança no Botafogo

A versatilidade tática de Marçal emergiu como um trunfo indispensável para o Botafogo em momentos cruciais. Sua capacidade de atuar como zagueiro, uma adaptação que se tornou frequente diante de desfalques na defesa ? seja por suspensões de Barboza ou lesões de David Ricardo, que substitui Kaio Pantaleão ?, não é um improviso, mas uma faceta aprimorada de seu repertório.

O jogador esclarece a transição para a linha central defensiva, um posicionamento que ele já havia experimentado em sua passagem pelo Lyon. A diferença no esquema tático à época, com três zagueiros, não diminui sua familiaridade com a função. Pelo contrário, a visão ampliada do campo que a posição oferece potencializa sua vocação para a orientação dos companheiros.

Estou muito feliz em poder ajudar o grupo. Joguei de zagueiro por um ano e meio no Lyon. Eram três zagueiros, então o posicionamento era um pouquinho diferente. Hoje eu fico muito confortável porque meu perfil é muito de falar, orientar... De zagueiro, você consegue fazer com mais facilidade. Na lateral, você às vezes fica muito envolvido em jogadas ofensivas. Quando você é zagueiro, você vê o jogo de trás e passa com mais clareza as coisas para os colegas. Estou muito feliz mesmo.

A Versatilidade Tática de Marçal: Um Ativo Inestimável para o Glorioso

No cotidiano do Botafogo , Marçal reconhece-se como um elemento de referência. A experiência acumulada ao longo dos anos, para o veterano, transcende a mera participação em jogos; ela se traduz em um capital social e prático que beneficia o ambiente do vestiário e o desenvolvimento dos talentos emergentes. Há um respeito natural conquistado, que se manifesta em pequenos gestos e na troca de vivências com os mais jovens.

No bobinho você não vai (risos), o pessoal te respeita. O legal mesmo é respeito que eu tenho pelo Botafogo, o clube e a forma como eu conheço. Consigo abraçar o pessoal que chega e tem dado super certo. Ser mais antigo é a troca de experiência. (...) Fiz isso em 2022 com o Jeffinho, quando ele subiu. Hoje me dou muito bem com Nathan, Matheus Martins, com Montoro. (...) Esse cara mais experiente traz essa tranquilidade. Acho que é benéfico.

Essa "referência" se materializa em uma conduta exemplar. Marçal é um profissional que investe em sua preparação e recuperação, servindo de inspiração para os atletas em início de carreira. O contraste entre as gerações é notável: enquanto no passado os mais jovens tendiam a deixar o centro de treinamento logo após as atividades, hoje se observa uma maior permanência na academia, buscando aprimoramento, muitas vezes espelhando-se nos veteranos.

Acho que (o papel no grupo) é referência. Sou bastante profissional, o pessoal me vê antes do treino fazendo complemento, tentando melhorar ou resolver alguma coisa da temporada. Antigamente, os jovens acabavam os treinos e já iam embora. Hoje, eles ficam na academia. Ontem mesmo (na terça-feira), vi o Vitinho indo buscar o Huguinho e perguntando o que ele tinha feito. 'Foi costas ontem? Então hoje é ombro'.A liderança é um pouco natural, mas há jogadores com mais perfis de liderança, como Marlon Freitas, acho que é mais visível.

O Legado de um Veterano: Marçal e a Formação de uma Mentalidade Vencedora

A presença de Marçal torna-se ainda mais crucial no contexto da Libertadores. Com o retorno de David Ricardo à delegação, mas ainda com a incerteza sobre sua plena condição física para atuar por 90 minutos, Marçal emerge como o substituto imediato na zaga. Sua experiência será vital para o Botafogo enfrentar os desafios impostos pela altitude de 2.850 metros de Quito e pela LDU, onde um empate garante a vaga nas quartas de final.

O lateral-zagueiro também delineou a abordagem tática para o embate, que visa mitigar os efeitos da raridade do ar e a intensidade do adversário. A estratégia do Botafogo , segundo ele, passa por uma gestão inteligente da posse de bola e uma preparação robusta para o confronto físico.

Estamos com algumas ideias (para enfrentar a LDU). Se conseguirmos colocar em prática... Uma delas é diminuir bolas longas, para não fazermos grandes distâncias sem bola. É tentar ter a bola. E muito importante estarmos preparados para o embate físico. Não é só correndo atrás da bola que gastamos energia.

Em suma, Marçal representa mais do que um jogador experiente; ele é um pilar de adaptabilidade tática, liderança silenciosa e profissionalismo. Sua capacidade de transitar entre posições e sua influência sobre o elenco jovem são ativos inestimáveis para o Botafogo , especialmente em momentos decisivos como o da Libertadores, onde a experiência e a inteligência de jogo podem ser o diferencial entre o sucesso e a eliminação.