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John Textor: Botafogo "Bem" e o Futuro em Jogo - Entrevista Exclusiva

Por Redação FutFogão em 21/10/2025 06:24

Em meio a um cenário de grandes expectativas e, por vezes, frustrações para o Botafogo, o acionista majoritário John Textor surpreende ao afirmar que o clube "está indo bem". Essa declaração, proferida em setembro, ecoa em um ano que, embora tenha visto o futebol brasileiro celebrar conquistas históricas em 2024, trouxe desafios significativos para o Alvinegro, incluindo eliminações precoces na Libertadores e Copa do Brasil, além de uma distância do topo da tabela no Campeonato Brasileiro.

Apesar da percepção externa de turbulência, o empresário americano mantém uma visão otimista. Ele defende o planejamento do clube e se recusa a classificar o momento como de instabilidade, projetando um futuro promissor para o time de General Severiano.

A Perspectiva Inabalável de Textor: O Botafogo "Bem" em Meio à Turbulência

A confiança de Textor é palpável, mesmo com as recentes adversidades. "Tem sido um ano difícil, mas não vou me desculpar por estarmos em quinto ou sexto lugar, e estou muito confiante de que estaremos no G4 e que voltaremos à Copa Libertadores", declarou o dirigente. Sua convicção baseia-se na crença de que o Botafogo , apesar dos tropeços, segue um caminho de progresso e tem potencial para alcançar seus objetivos.

Essa postura desafiadora se alinha à sua jornada no futebol. Em uma entrevista exclusiva, Textor revisitou sua entrada no Botafogo , a saga que vive desde 2022 no cenário esportivo brasileiro e os planos que delineia para o futuro do Glorioso.

O Labirinto Corporativo: O Destino do Botafogo na Eagle

Paralelamente aos desafios em campo, Textor enfrenta uma complexa disputa judicial com outros acionistas de seu grupo empresarial, a Eagle. Atualmente, a Eagle é gerida por um diretor independente, e a permanência do Botafogo dentro dessa estrutura multinacional é incerta. Existe até a possibilidade de Textor se desvincular da própria empresa e, consequentemente, precisar recomprar o clube.

"Essas decisões grandes, caras e estratégicas levam tempo. Espero que continuemos juntos e mantenhamos o mesmo sucesso, mas também é possível que o Botafogo se separe da Eagle, com novos parceiros que eu possa trazer", ponderou o americano, revelando a complexidade das negociações nos bastidores. A incerteza corporativa adiciona uma camada extra de pressão à sua gestão.

A Trajetória Inesperada: De Academia a Proprietário do Glorioso

A chegada de Textor ao Botafogo se deu de maneira curiosa, através de um contato via LinkedIn com Thairo Arruda, então gestor da Matix Capital e hoje CEO do clube. O que motivou um empresário americano a responder a brasileiros desconhecidos na internet? "Oportunidades acontecem porque alguém traz uma ideia para você, talvez Deus, e ela chega exatamente no momento em que você está aberto a recebê-la. Não é tão misterioso. Tenho certeza de que Thairo não entendia a minha trajetória no futebol, que começou em 2005", explicou Textor.

Sua jornada começou com uma academia para jovens sul-americanos indocumentados nos EUA, um "projeto paralelo" que se intensificou após um revés em seus outros empreendimentos em 2012. "Aí tive um fracasso nos outros negócios. De repente, estava sem trabalho. Essa academia virou quase meu trabalho em tempo integral por alguns anos. Aprendi nela que, muitas vezes, os melhores jogadores do mundo são invisíveis. Não são descobertos. O desejo de que isso fosse visto culminou anos depois com uma mensagem do Thairo, dizendo que eu deveria olhar para o Brasil."

A experiência de um fracasso empresarial anterior (a falência da Digital Domain) moldou sua resiliência. Textor citou o técnico John Wooden: "Reputação é o que as pessoas pensam que você é; caráter é quem você realmente é." Ele se sentiu "escolhido" pelo futebol. "Eu percebi naquela noite, em Fortaleza, que eu estava envolvido em algo muito mais especial, e que isso exigia mais do meu esforço e do meu coração. É muito diferente do que eu tenho na França, na Inglaterra ou na Bélgica", descreveu, referindo-se a um jogo contra o Fortaleza em maio de 2022, onde sentiu a magnitude do Botafogo .

Estratégia e Olhar Clínico: A Construção do Scouting Alvinegro

A estruturação do departamento de scouting do Botafogo é creditada a Textor, que implementou uma metodologia inovadora. Ele descreve a complementaridade entre o olhar técnico de profissionais como Alessandro Brito, chefe de olheiros, e sua própria análise baseada em dados. "Alguém como o Alessandro Brito olha para um jogador e vê: bom primeiro toque, corpo bem posicionado, técnica apurada no giro, levanta a cabeça. O Brito tem um olhar incrível, um conhecimento enorme de futebol", afirmou Textor.

Sua abordagem difere: "Já eu vejo componentes de tempo. Não me importa se ele é o jogador mais inteligente ou o mais fisicamente talentoso. O que me importa é quanto tempo ele leva para receber, girar e distribuir a bola ? e se ele faz isso em menos tempo que os outros, com alta taxa de acerto. Talvez o Brito enxergue com os olhos; eu, com os números ? e esses dois mundos se unem." Essa sinergia é amplificada por uma rede de colaboração entre os clubes da Eagle, onde a validação de um jogador por diferentes olheiros dos países do grupo reforça a confiança na contratação.

Desafiando a Narrativa: Paciência e Liderança em Tempos Difíceis

Em 2023, Textor gerou controvérsia com acusações de manipulação de resultados, o que o colocou em rota de colisão com figuras importantes do futebol brasileiro. Ele atribui parte de sua conduta a um transtorno de déficit de atenção, que o torna "muito míope", como "um cachorro correndo atrás de um osso ? tudo o que vê é o osso, não vê o carro que vai te atropelar". No entanto, ele ressalta que sua reconciliação com Leila Pereira, presidente do Palmeiras, ocorreu porque ela reconheceu que as acusações não eram direcionadas a ela ou ao clube, mas sim a uma "pandemia mundial de manipulação de resultados".

Seus colaboradores no Botafogo destacam sua habilidade em reconstruir relações. Textor reconhece o papel de Thairo Arruda na reaproximação com Leila Pereira. Ele narra um encontro no camarote da Copa do Mundo de Clubes, onde, apesar da tensão do jogo, houve um diálogo: "Oi, como vai, Leila?" ? no momento mais tenso do jogo, estávamos conversando. As pessoas ainda são seres humanos. E ela nos venceu naquele dia ? nos abraçamos de verdade, e eu acredito que foi genuíno."

Questionado sobre a falta de paciência e o aumento da pressão após a queda de desempenho em 2024, Textor rechaça as críticas. "Eu nunca zombaria dos nossos torcedores, mas algumas críticas são meio bobas. Somos um time que ganhou um campeonato com boas decisões e planejamento. Nos recuperamos de um 2023 incrivelmente difícil -- o maior início da história do futebol e o maior colapso, tudo ao mesmo tempo."

A Mentalidade de Campeão: Visão e Defesa do Planejamento Alvinegro

Ele exemplifica a importância de sua visão ao defender a permanência de Marlon Freitas, que se tornou "talvez a figura mais importante do vestiário" após um ano de cobranças. O dirigente também abordou a dificuldade em contratar um técnico no início da temporada, citando a recusa de nomes como Tite, Tata Martino e Rafa Benítez, e a desistência de André Jardine. "Não foi planejamento ruim, foi apenas falha na execução", sintetizou.

Textor mantém sua linha de raciocínio, mesmo percebendo a irritação de alguns. "Desculpe continuar falando, mas acho que o Botafogo está indo bem. Desculpe se isso incomoda algumas pessoas. Muitos dos jogadores de um campeonato querem sair no ano seguinte, porque dizem 'já fiz tudo que podia aqui no Brasil'. Ou 'estou na última oportunidade de ir para a Europa'. Alguns dos mesmos jogadores que ganharam o campeonato um ano antes estão em 85% do nível que tinham no ano anterior." Essa percepção explica, em sua visão, a oscilação de desempenho.

Em momentos de desânimo no clube, Textor agiu para reforçar a mentalidade vencedora. Ele confirmou ter pedido que as taças fossem exibidas na apresentação do ex-técnico Renato Paiva em fevereiro. "Eu não gostei da atitude derrotista no clube, mesmo entre os torcedores. Quis mostrar: você é campeão até alguém ganhar o próximo troféu. Você é o 'rei da montanha', até que alguém te derrube dessa posição." Sua intenção era clara: enviar uma mensagem de força ao mundo e de alta expectativa de desempenho ao novo treinador.

Solidez Financeira e o Fim da Contenda na Eagle

Além dos desafios esportivos, o Botafogo , sob a gestão de Textor, demonstra robustez financeira. "Eu diria que as pessoas precisam entender que o Botafogo está indo bem financeiramente. Nossas receitas aumentaram de US$ 20 milhões, quando começamos isso em 2022, para bem mais de US$ 200 milhões este ano. Provavelmente ficará mais próximo de US$ 240 milhões. O fluxo de caixa operacional e o lucro operacional da organização também estão muito altos", revelou Textor, destacando o crescimento exponencial da receita.

A disputa com os acionistas da Eagle, sua empresa, teve origem na França, envolvendo o Lyon. Textor explicou que foram desconsiderados "fluxos de caixa comprovados de dinheiro que estava indo do Botafogo ou de outros clubes do grupo Eagle para a França, dizendo: 'Isso não conta'. Eles também riscaram as vendas de jogadores, que somam US$ 100 milhões por ano na França, dizendo que 'isso também não conta'." Essa reinterpretação contábil, segundo ele, fazia qualquer clube parecer insustentável. A situação forçou Botafogo e Lyon a negociar como entidades independentes.

A controvérsia nos tribunais, que levou a Eagle a operar com um diretor independente e o afastamento de Textor do Lyon, foi, em grande parte, um "enorme mal-entendido", segundo o empresário. Ele esclareceu que a Eagle Cayman (agora Eagle Football Group nas Ilhas Cayman) foi criada para consolidar os interesses do grupo e abrir capital na Bolsa de Nova York. Suas ações de captação de dinheiro para o Botafogo , feitas em nome dessa nova entidade, foram mal interpretadas pelos advogados do diretor independente.

A boa notícia é que a disputa parece ter chegado ao fim. "Vou dizer, para ficar registrado: encerramos a disputa na semana passada (segunda semana de setembro) com um acordo com Christopher Mallon, o diretor independente. Ele me pediu para assinar unilateralmente, porque era a maneira mais rápida de fazer tudo que precisava ser feito para encerrar essa disputa judicial", afirmou Textor. Embora Mallon tenha renunciado posteriormente, a resolução do litígio representa um passo importante para a estabilidade corporativa.

Sobre o futuro do Botafogo na Eagle e sua própria permanência, Textor reitera seu desejo de manter a estrutura atual. "Meu objetivo é que a Eagle continue unida em seu ecossistema atual, porque essa relação de múltiplos clubes funcionou muito bem para o Botafogo . Queremos conquistar um campeonato sendo capazes de prometer um caminho para a Europa a jogadores." Ele admite que um cenário de separação, onde ele recompraria o Botafogo com novos parceiros, foi considerado, mas "também trabalhamos ideias melhores para continuarmos juntos", finaliza, indicando que a união ainda é a preferência.

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