Estratégias de Paiva no Botafogo: Adaptações com Laterais-Esquerdos

Desafios e Soluções na Defesa do Botafogo

Diante de um cenário de desfalques que incluíram os zagueiros Barboza e Bastos, o meia Savarino e os atacantes Matheus Martins, Mastriani e Artur, o técnico Renato Paiva precisou inovar na escalação do Botafogo para o clássico contra o Flamengo. As soluções encontradas, embora emergenciais, demonstraram a capacidade de adaptação do elenco e a visão estratégica do treinador.

A utilização simultânea de três laterais-esquerdos ? Alex Telles, Cuiabano e Marçal? na partida contra o Flamengo chamou a atenção. No entanto, cada um desempenhou funções distintas: Telles manteve-se na lateral, Cuiabano atuou como ponta e Marçal foi deslocado para a zaga. Essa configuração atípica reflete os desafios enfrentados por Paiva na montagem da equipe.

Foto: (Divulgação)

A Versatilidade de Cuiabano e o Sistema Ofensivo

Um dos destaques positivos das improvisações de Renato Paiva é, sem dúvida, Cuiabano . Originalmente lateral, o jogador se adaptou à função de ponta e tem apresentado um desempenho consistente, a ponto de se firmar no sistema ofensivo, mesmo com o retorno dos jogadores lesionados. Essa mudança tática demonstra a confiança do treinador no potencial de Cuiabano e sua capacidade de contribuir em diferentes posições.

Paiva comentou sobre a versatilidade de Cuiabano : "É uma boa dor de cabeça nesse momento porque ele pode jogar nas duas posições, na frente e atrás. Se ele estiver melhor que outros, vou tirá-lo porquê? Gosto muito da meritocracia. Treina bem, responde em campo... Tenho que criar condições para que a equipe esteja bem. Se a adaptação está feliz e ele está jogando bem, quem quiser jogar ali tem que trabalhar mais que ele. É verdade que hoje ele acabou (o jogo) mais em dificuldade, é preciso termos alternativas para acabar o Cuiabano . Jogar em 90 minutos toda semana nesse ritmo ele vai acabar se lesionando".

A principal qualidade de Cuiabano é sua capacidade de chegar ao ataque, o que motivou Paiva a integrá-lo ao sistema ofensivo. No jogo contra o Flamengo, ele quase marcou um gol de trivela, evidenciando seu talento e potencial ofensivo.

Mudanças no Esquema Tático e o Papel de Allan

Historicamente, desde que se tornou SAF, o Botafogo tem adotado o esquema 4-2-3-1, com algumas exceções sob o comando de Luís Castro, que utilizou três zagueiros em algumas partidas. Com a lesão de Savarino e a necessidade de aprimorar o ritmo de jogo de Santiago Rodríguez, Renato Paiva optou por um esquema sem meias, potencializando a participação de Igor Jesus na criação de jogadas.

Outro jogador que tem ganhado destaque com a chegada de Paiva é Allan. Contratado como reforço no meio do ano anterior, Allan teve poucas oportunidades e foi reserva na maior parte do tempo sob o comando de Artur Jorge. No entanto, Paiva tem utilizado o camisa 25 com mais frequência, inclusive como titular contra o Flamengo, em uma função de meia pela direita, auxiliando na marcação e recompondo pelos flancos.

Sobre Allan , Paiva declarou: "O que encontramos foi um cara jovem, que foi treinado pelo próximo treinador do Brasil, tem uma carreira extraordinária, pisa o campo como ninguém, pode não durar noventa minutos, mas fez um jogo extraordinário. O treinador não pode dizer para fazer o que faz o Savarino ou o Artur . Ele vai dizer: "Mister, eu não sou eles". Eu tenho que ver as características do Allan e pedir "dentro do que vamos preparar quero que faça isso". E foi o que ele fez. Um dos desbloqueadores na pressão do Flamengo, jogou nas costa da pressão e pisou nos espaços como ele sabe. Poder receber e servir sem andar na vertigem, e não avançar como o Savarino. Ele jogou a vida toda de frente. Não posso dizer para jogar na entrelinha. Muitas vezes, as entrelinhas são curtas. Falei: "você percebe o jogo como ninguém, então desbloqueia o jogo". Fez uma exibição extraordinária".

Marçal na Zaga: Uma Decisão Tática Inusitada

A improvisação mais surpreendente de Renato Paiva foi a escalação de Marçal como zagueiro no segundo tempo da partida contra o Flamengo, após a lesão de David Ricardo. Apesar de sua altura (1,78m), Marçal foi escolhido pela sua experiência e domínio do pé esquerdo.

Paiva justificou a escolha: "Três laterais é força das circunstâncias. Não havia opções. O Marçal já fez a zaga. Minha reticência não era por sua eficiência, mas pela sua altura. Mas pela experiência e por saber pisar o campo, me deu confiança de colocá-lo. Vai ser difícil jogaram os três. Mas quando as circunstâncias acontecessem, tenho que decidir rápido. Se calhasse de dar errado, eu seria crucificado".

Marçal já atuou como zagueiro em uma linha de três no Lyon, na temporada 2019-20, e em parte de sua passagem pelo Wolverhampton, entre 2020 e 2022. No Botafogo , ele já havia desempenhado essa função contra o São Paulo, no último jogo do Brasileirão do ano passado.