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David Ricardo no Botafogo: Superação, Legado Familiar e Ascensão no Futebol Brasileiro
Por Redação FutFogão em 04/06/2025 04:15
No cenário do futebol profissional, onde a busca incessante por resultados muitas vezes obscurece as narrativas pessoais, a trajetória de David Ricardo, zagueiro do Botafogo, emerge como um testemunho de resiliência e motivação inabalável. Para ele, cada entrada em campo transcende a mera disputa tática; é uma reverência a uma promessa, um elo com a memória e a materialização de um propósito que se solidificou em meio à dor.
Recentemente, o defensor alvinegro tem se destacado, assumindo com notável competência a posição deixada por um colega lesionado. Sua presença em jogos decisivos da Libertadores, a concretização do sonho de marcar o renomado Neymar e a experiência de atuar no icônico Maracanã não são apenas marcos em sua carreira, mas reflexos de uma força interior que o impulsiona a ir além.
O Legado que Impulsiona: A Memória de Maria Luiza
A verdadeira âncora da determinação de David Ricardo reside na figura de sua mãe, Maria Luiza, cuja partida em 2022 o confrontou com um vazio inesperado. Sem a oportunidade de uma despedida formal, uma frase dita por ela tornou-se o alicerce de sua jornada. Essa diretriz, pronunciada nos momentos derradeiros da mãe, moldou seu caminho de forma indelével, transformando a dor em um motor para a superação.
- Se estou hoje aqui, primeiro é graças a Deus e segundo, a ela. Não fosse ela eu já teria parado há muito tempo ou nem começado. Desde o início foi ela sempre que me deu tudo, eu só jogava. Do lado de fora do campo, era tudo com ela, que se virava eu não sei como. Deu tudo certo e hoje estou aqui colhendo os frutos - revelou o atleta, com uma sinceridade tocante.
Ainda em 2022, antes de sua transferência para o Ceará, Maria Luiza expressou sua convicção de que ele seria adquirido pelo novo clube. Poucos meses depois, enquanto David viajava para um confronto em Goiânia, a notícia de seu falecimento o atingiu. Diante da adversidade, a lembrança daquela profecia materna o impediu de retroceder.
- Pensei em não voltar mais pro Ceará porque meu contrato já estava acabando e eu voltaria para Teresina. Mas aquela palavrinha que ela disse ao se despedir de mim... Então eu coloquei para mim mesmo que voltaria e seria comprado. E, por incrível que pareça, no meu momento mais difícil, foi quando eu consegui jogar mais pela motivação. Queria muito realizar esse sonho dela. E, graças a Deus, mesmo com o time caindo para a Série B, eu fui comprado.
A concretização desse objetivo, mesmo em um período de luto, demonstra a intensidade de sua dedicação. Atualmente, a felicidade de David é palpável, estendendo-se à sua família, que também compartilha dessa realização. A fé e a presença da esposa Lays e do filho Matteo, de apenas cinco meses, adicionam novas camadas de motivação a essa história de vida e futebol.
- Estou muito feliz, realizando o sonho dela, o meu e o da minha família. Me apego muito a Deus e sei que um dia vou me encontrar com ela de novo, vamos bater o nosso papo... Não tivemos tempo de nos despedirmos aqui na terra, mas vamos nos encontrar no céu. Por ela, eu continuo - concluiu ele, visivelmente comovido.

Das Ruas de Teresina ao Profissionalismo
A jornada de David Ricardo começou humildemente nas ruas da periferia de Teresina, Piauí, onde os primeiros toques na bola eram dados descalço ou com as chuteiras improvisadas do avô. Aos nove anos, a escolinha do bairro, acompanhado do tio, marcou o início de sua trajetória formal no esporte. No Fluminense-PI, onde permaneceu até a categoria sub-20, atuava inicialmente como lateral-esquerdo.
A transição para a posição de zagueiro ocorreu por um feliz acaso no time profissional. A carência de defensores centrais abriu uma oportunidade para David, que, a princípio, relutava em aceitar a mudança. No entanto, a adaptação foi rápida e bem-sucedida.
- Cheguei lá, estava faltando zagueiro, me testaram e deu certo. Eu não gostava, não queria. Fui aprendendo aos poucos. Duas semanas depois estreei como zagueiro. Fui muito bem, joguei o campeonato todo como titular, fui destaque, vice-campeão, entrei na seleção... Aí não quis mais voltar pra lateral, não - brincou o jogador, evidenciando sua rápida familiaridade com a nova função.
Apesar de sua solidez defensiva, David Ricardo ainda mantém um instinto ofensivo, demonstrando sua versatilidade em campo. "Tenho mais facilidade de jogar mais pra frente. De vez em quando dou uma de doido e vou para o ataque também", comenta, revelando um estilo de jogo dinâmico e proativo.
A Ascensão no Ceará e a Trajetória Consolidada
Impulsionado por sua motivação pessoal, David Ricardo foi definitivamente adquirido pelo Ceará, clube onde conquistou títulos e, notavelmente, o acesso à Série A. Essa fase foi crucial para sua consolidação como atleta e para atrair o interesse de grandes equipes do cenário nacional. É nesse período de destaque que o Botafogo , já um antigo admirador de seu futebol, intensifica a observação.
A relação com o clube cearense é marcada por profunda gratidão. "Me considero um jogador da base do Ceará, mesmo tendo jogado no profissional do Fluminense-PI. Morei no CT, fui muito acolhido. Tenho muito orgulho de ter feito parte do clube, ganhar título, acesso e memórias. Até falei que um dia esperava voltar porque tenho muita gratidão. Nos momentos difíceis, o clube sempre esteve do meu lado, e eu pude retribuir", expressou David, evidenciando o carinho pelo time que o projetou.
A Conquista da Estrela Solitária
O interesse do Botafogo em David Ricardo não era recente. Em 2024, a negociação quase se concretizou, mas foi impedida por um impedimento de registro (transfer ban) imposto ao Ceará, o que esfriou as conversas. O zagueiro, inclusive, acompanhou a final da Libertadores em casa, momento que o fez refletir sobre seus próprios anseios e ambições no futebol.
No início deste ano, uma proposta para atuar nos Estados Unidos surgiu, com tratativas avançadas e planos de moradia já em andamento. No entanto, David Ricardo sentia que aquele não era o momento ideal para a mudança. Em um ato de fé e intuição, ele buscou clareza.
- Já estava praticamente tudo certo, com salário, eu estava vendo casa. Meu empresário me ligou dizendo para eu começar a arrumar as minhas coisas porque ele estava comprando a passagem. Mas no meu coração, eu não sentia que era o momento para ir para lá. Quando fui dormir pedi em oração que se fosse da vontade de Deus que eu fosse para os Estados Unidos, que eu fosse, se não, que me trouxesse algo que eu fosse gostar. E que, se fosse possível, do Botafogo porque eu sabia que eles tinham interesse em mim.
O desfecho de sua prece veio no dia seguinte, quando uma ligação de número desconhecido foi inicialmente ignorada. Contudo, uma mensagem de seu empresário confirmou que era Alessandro Brito, diretor do Botafogo , quem tentava o contato. A partir daí, a decisão foi imediata.
- Até pedi desculpa pra ele porque eu não atendi. Eu não sabia quem era, e o número era desconhecido. Meu empresário mandou mensagem dizendo que o Alessandro estava me ligando e foi quando eu atendi. Ele perguntou se eu tinha interesse, e na hora eu nem pensei muito. Não perguntei quanto ganharia, só falei para o meu empresário que poderia fechar porque eu queria muito vir para cá.
Desafios e Ambições no Nilton Santos
Chegando ao Botafogo , David Ricardo tinha plena consciência da qualidade do setor defensivo da equipe, que contava com campeões da Libertadores e do Brasileirão, como Bastos e Barboza. A perspectiva de não ser titular de imediato era clara, mas não o desmotivou.
- Eu já vim sabendo que a melhor zaga da América do Sul estava aqui no Botafogo e que eu não chegaria jogando. Tive algumas oportunidades no Carioca, depois fui para o banco, mas sempre de cabeça erguida, trabalhando até dobrado. Mas com o calendário do Brasil, eu sabia que uma hora chegaria a minha oportunidade. Jamais vou torcer para um companheiro meu se lesionar, inclusive estou muito feliz que ele está voltando. Prefiro que a gente brigue pela posição, e que o trabalho seja do treinador.
A mentalidade de David Ricardo reflete um profissionalismo exemplar, priorizando a competição saudável e o bem do grupo. Sua capacidade de adaptação e o empenho nos treinamentos foram cruciais para que, diante das circunstâncias, ele pudesse corresponder às expectativas. Com dez jogos disputados pelo Botafogo até o momento, incluindo participações em competições de peso como a Libertadores, o zagueiro continua a ser testado e a se desenvolver. Em breve, a ironia do destino o levará aos Estados Unidos, não para uma transferência, mas para a disputa da Copa do Mundo de Clubes, um novo capítulo em sua inspiradora trajetória.
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