Botafogo x LDU: Análise Crítica do Desempenho e Lições para a Volta na Libertadores

O gol relâmpago, anotado com meros catorze segundos de jogo, o mosaico que coloria as arquibancadas e a atmosfera vibrante da torcida alvinegra construíram um cenário de otimismo quase ilimitado. Nos primeiros instantes da partida de ida das oitavas de final da Conmebol Libertadores, nesta quinta-feira, o Botafogo criou a expectativa de um placar dilatado contra a LDU. Contudo, o que se desenrolou pelos noventa minutos seguintes foi um time espaçado, com notáveis dificuldades para lidar com a intensa e física marcação imposta pela equipe equatoriana.

A vitória por 1 a 0, embora crucial por conferir uma vantagem no confronto eliminatório, carrega um sabor agridoce. O desfecho é, de certa forma, frustrante se comparado ao clima inicial e à projeção de um triunfo mais consistente. Ainda assim, o Glorioso se prepara para a viagem a Quito na próxima semana, munido da possibilidade de um empate para garantir sua vaga nas quartas de final do torneio continental.

Desempenho do Botafogo: Entre a Euforia e a Realidade Tática

A ideia de que "poderia mais" revelou-se uma armadilha perigosa. Do outro lado do campo, a LDU exibiu uma capacidade notável de neutralizar o meio-campo do Botafogo, utilizando uma proposta de jogo pautada na intensidade física e em uma linha defensiva avançada. Esse estilo de atuação surpreendeu o técnico Davide Ancelotti, que, provavelmente, esperava um embate em que seu time pudesse exercer maior controle da posse de bola atuando como mandante.

Ancelotti, em suas declarações pós-jogo, reconheceu a complexidade da competição e a surpresa com o adversário:

Vejo que é uma competição de alto nível, onde os jogos são difíceis, porque os times são organizados, têm qualidade física. LDU surpreendeu porque não conhecia bem, tive pouco tempo para estudar o time, então eles surpreenderam. Fico contente com a vitória. Eles aproveitaram os espaços que tiveram muito bem.

A Surpreendente Tática da LDU e o Impacto no Meio-Campo Alvinegro

A parceria entre Danilo e Marlon Freitas, que pela primeira vez atuaram como titulares juntos, demonstrou uma clara falta de sintonia. Embora tenham ensaiado algumas triangulações promissoras na fase de saída de bola, rapidamente se viram "encaixotados", incapazes de encontrar Savarino, que mais uma vez entregou uma atuação aquém do esperado. Com a contenção do setor central, a solução encontrada pelo Alvinegro foi a aposta em lançamentos longos para Arthur Cabral, uma vez que os dois pontas apresentavam menor capacidade física no jogo aéreo. Isolado contra três zagueiros, o centroavante levou a pior na maioria dos duelos de pivô.

O desempenho coletivo foi insatisfatório. A LDU, inclusive, assustou em duas ocasiões no final da primeira etapa, e em ambas o Botafogo foi salvo por Vitinho: na primeira, um carrinho preciso impediu Quintero de finalizar na pequena área; na outra, uma cabeçada providencial desviou um chute de Azulgaray que já levava direção ao gol, com John fora da meta após uma saída equivocada.

Ajustes para a Altitude: O Que a Vitória Esconde para o Jogo de Volta

O time carioca conseguiu reequilibrar a balança física na etapa complementar, especialmente após as entradas de Matheus Martins e Nathan Fernandes. Ambos, pontas com maior imposição e capacidade de arrancada, conseguiram superar a marcação e incomodar os defensores adversários com seus dribles, mas pecaram na tomada de decisões na hora da conclusão das jogadas.

Não há motivo para transformar o resultado em um drama desnecessário. O Botafogo , afinal, conquistou a vitória. A resolução da vaga será na altitude, um desafio por si só. No entanto, é inegavelmente preferível encarar essa adversidade com uma vantagem, mesmo que mínima, do que partir para o Equador sem qualquer margem de segurança. A vitória, embora discreta no placar, pode ser um trampolim para ajustes cruciais antes da decisão em Quito.