Botafogo: Triunfo Histórico em Cádiz Contra Bayern de Beckenbauer

A recente chegada de Chris Ramos ao Botafogo, vindo do Cádiz, não marca a primeira interação do clube carioca com a cidade espanhola. Décadas atrás, na década de 1970, o Alvinegro realizou uma notável excursão a Cádiz para participar de um torneio amistoso que reuniu potências do futebol europeu, como Athletic Bilbao, Bayern de Munique e Benfica, em uma jornada que se tornaria memorável para a história do clube.

O Troféu Ramon de Carranza: Um Palco Internacional para o Glorioso

O Troféu Ramon de Carranza, uma competição idealizada pelo Cádiz para impulsionar o turismo local e servir como abertura da temporada futebolística na região, convidou o Botafogo para sua edição de 1972. A presença do Glorioso era justificada pelo brilho de Jairzinho, o "Furacão", que havia sido um dos grandes destaques da Copa do Mundo de 1970. O próprio atacante foi uma das figuras centrais na promoção do evento, ao lado de ícones como Eusébio, Franz Beckenbauer e José Ángel Iríbar, lendário goleiro do Athletic Bilbao.

A relevância do Botafogo em Cádiz ecoa até os dias atuais, como evidenciado pelas palavras do próprio Chris Ramos em sua chegada ao Brasil:

- Para mim, o futebol brasileiro se vive intensamente, tenho muitos amigos e companheiros brasileiros e da América do Sul. Do clube que eu venho, na Espanha, quando eu era pequeno, meus pais eram pequenos, o Botafogo sempre foi um clube que ia para o Troféu (Ramon de Carranza) e sempre foi conhecido em Cádiz.

Contratempos e o Espírito Alvinegro: A Polêmica de Tim

Apesar da expectativa, a participação do Botafogo no torneio não começou da forma mais auspiciosa. Na semifinal, contra o Benfica, Jairzinho sofreu uma lesão logo no início da partida, e o Alvinegro acabou derrotado por 3 a 0 pela equipe liderada por Eusébio. Além do revés em campo, o ambiente nos bastidores foi abalado por declarações controversas do técnico Tim, que teria afirmado que o elenco estava "cheio de hippies", gerando desconforto entre os atletas.

A disputa pelo terceiro lugar colocou o Botafogo frente a frente com o poderoso Bayern de Munique, que havia sido superado pelo Athletic Bilbao nos pênaltis. A equipe alemã contava com estrelas de calibre mundial, como Franz Beckenbauer e Gerd Müller, o artilheiro da Copa de 1970. Pelo lado alvinegro, na ausência de Jairzinho, os destaques eram o argentino Fischer e Roberto Miranda.

A Revanche Improvável: Botafogo X Bayern de Munique

A partida contra o Bayern de Munique, disputada em 27 de agosto de 1972, transcendeu a mera disputa de terceiro lugar. O confronto ganhou um tempero especial devido ao atrito interno e à necessidade de uma resposta em campo, como descrito em matéria do Jornal dos Sports da época:

Irritados com uma declaração de Tim de que o time está cheio de 'hippies' e bagaceiros, os jogadores do Botafogo entraram com tanta disposição em campo para enfrentar o Bayern de Munique que mais pareciam que estavam jogando uma final de campeonato mundial.

O Botafogo , impulsionado por um misto de orgulho e determinação, superou o gigante bávaro. Ferretti marcou duas vezes, enquanto Fischer e Roberto Miranda balançaram as redes uma vez cada. Gerd Müller descontou com dois gols para o Bayern, mas a vitória por 4 a 2 garantiu ao Alvinegro a terceira colocação no torneio. A performance da equipe demonstrou uma resiliência notável, transformando uma situação adversa em um triunfo memorável.

O Legado de Prata e a Conexão Atual com Chris Ramos

Com a vitória, o clube carioca retornou ao Rio de Janeiro ostentando um troféu de prata, uma prova tangível daquela façanha internacional. A taça, símbolo de um momento de glória e superação, encontra-se atualmente exposta em General Severiano, a sede social do Botafogo . Essa conquista, por vezes esquecida, ressalta a capacidade do Botafogo de se destacar em palcos globais, mesmo diante de adversidades.

A história da conexão entre Botafogo e Cádiz, iniciada com um torneio amistoso e uma vitória sobre um gigante europeu, ganha um novo capítulo com a chegada de Chris Ramos. A familiaridade do jogador com o nome do Botafogo em sua cidade natal não é mera coincidência; é um reflexo de um legado construído em campo, que transcende o tempo e as fronteiras, reforçando a rica e por vezes surpreendente trajetória internacional do Glorioso.