Botafogo: Prioridade na Copa do Brasil? Desempenho e Elenco

É lugar-comum no futebol de alta performance que nenhum treinador de uma grande equipe admita publicamente a preferência por uma competição em detrimento de outra. Tal postura é um dos rituais recorrentes nas coletivas de imprensa, um discurso ensaiado para projetar uma imagem de força e ambição irrestrita. Davide Ancelotti, ao que parece, já assimilou essa retórica, proferindo-a em português fluente. Contudo, uma análise mais detida e algumas horas de reflexão podem revelar ao técnico italiano que a Copa do Brasil, de fato, acena de forma particularmente sedutora para o Botafogo neste momento.

Além de ser o único troféu de grande porte ausente na vasta galeria do clube, a Copa do Brasil representa a possibilidade concreta de resgatar uma temporada de 2025 que se desenha com contornos de irregularidade e incerteza. Internamente, é provável que Ancelottinho reavalie suas prioridades, especialmente se o Alvinegro confirmar sua vantagem e avançar às quartas de final do torneio, em seu confronto desta quarta-feira (6), em Bragança Paulista, contra o Red Bull Bragantino.

O Caminho Aberto na Copa do Brasil

As maiores potências que poderiam interpor-se no caminho do Glorioso rumo a este título inédito, notadamente Palmeiras, Flamengo e Cruzeiro, enfrentaram complicações em seus respectivos jogos de ida pelas oitavas de final. O cenário se apresenta favorável para o Botafogo , que pode emergir como o postulante mais consistente entre os oito remanescentes, assumindo precocemente o favoritismo.

Desafios no Brasileirão e Limitações do Elenco

Mais adiante no calendário, ainda neste mês, surge outra frente de batalha: a imponente Copa Libertadores da América. Nesse contexto, não há escapatória. Para almejar o bicampeonato continental, diante de uma agenda esportiva implacável, o Botafogo inevitavelmente precisará gerenciar suas forças, sacrificando algumas rodadas do Campeonato Brasileiro. No torneio nacional, a equipe se vê, a cada jornada, mais distante da liderança. Em outras palavras, a dosagem das escalações será crucial para manter o elenco em condições ideais de performance.

O Botafogo de 2025 carece da profundidade de elenco que permitiu a disputa simultânea de uma liga e um mata-mata em 2024. A avaliação crítica recai sobre John Textor, sócio majoritário da SAF, cujo planejamento na montagem do plantel resultou em uma estrutura que se mostra "invertebrada", com lacunas significativas. O caso de Cabral é exemplar: acumula minutos em campo sem uma sombra adequada ou a possibilidade de descanso, enquanto o reserva teórico permanece inativo no banco. Artur também não enfrenta concorrência, e a situação de Nathan não se resolve. A carência de um ponta-direita é evidente, com Montoro, Santi e até Barrera atuando predominantemente pelo lado esquerdo do ataque.

A Dualidade do Glorioso: Copa x Brasileirão

Renato Paiva, antecessor de Davide Ancelotti e atualmente no Fortaleza, certa vez identificou no Mais Tradicional um "time de duas caras" durante sua passagem. Como mandante, o aproveitamento era notável (92,5%), mas as atuações como visitante sob seu comando eram, em grande parte, uma tragédia esportiva, apesar de uma ligeira melhora nos confrontos finais. Parece que o Botafogo manteve essa característica, mas redistribuiu seus antagonismos de forma distinta.

No Campeonato Brasileiro, o Glorioso demonstra uma dificuldade imensa, precisando suar sangue para superar o lanterna, empatando com o frágil Vitória, desfalecendo no segundo tempo contra o Corinthians, sofrendo um vareio do Cruzeiro e conseguindo uma vitória convincente apenas contra um Vasco em situação moribunda. Tais sinais indicam que a equipe dificilmente transcenderá a condição de coadjuvante na liga nacional. Na Copa do Brasil, contudo, o time exibe predicados dignos de admiração. Que o Glorioso, portanto, consiga preservar essa metade vencedora.