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Botafogo: Jejum Histórico de 1993 e a Lição Inesperada. Conexões com o Bragantino de Hoje
Por Redação FutFogão em 06/08/2025 12:15
A atmosfera que envolve o Botafogo nesta semana é de efervescência, com desdobramentos significativos tanto nos bastidores quanto no campo de jogo. Enquanto a esfera administrativa testemunha a complexa disputa entre John Textor e a Eagle Football, o elenco enfrenta desafios concretos para a Copa do Brasil. Desfalques importantes como o goleiro John , ausente para resolver sua potencial transferência para o West Ham, e Kaio Pantaleão, acometido por uma lesão na coxa direita, impõem ao técnico Davide Ancelotti a necessidade de ajustes e adaptações.
Contudo, nenhum desses percalços contemporâneos se compara à singularidade de um episódio vivido pelo Alvinegro há mais de duas décadas, que ressoa curiosamente em um confronto contra o mesmo adversário: o Bragantino. Em 1993, o Botafogo mergulhou em um jejum de gols que se estendeu por mais de 13 horas, um período que culminou em uma das mais inusitadas manifestações de descontentamento de torcedores em campo.
Naquela ocasião, no confronto entre Botafogo e Bragantino, a indignação com a prolongada seca de gols no Campeonato Brasileiro levou dois aficionados a invadir o gramado do estádio Caio Martins. Em um ato de protesto performático, eles simularam a marcação de um gol e, dirigindo-se ao atacante Sinval, proferiram a célebre frase: "É assim que se faz!". O incidente, capturado pela memória do futebol, ilustra a paixão, por vezes exacerbada, da torcida.
O Peso da Frustração e a Reação em Campo
Sinval, uma das figuras daquele time, rememora o cenário de profunda dificuldade que envolvia o clube. Ele descreve o impacto da recente conquista da Copa Conmebol de 1993, que, paradoxalmente, gerou um relaxamento e a perda de foco subsequente. "Estávamos em um momento muito difícil. Havíamos ganhado a Copa Conmebol (em 1993) e perdemos o foco. Tínhamos as nossas limitações, nossos anseios de sermos reconhecidos por tudo que ainda não tínhamos feito dentro do futebol. Depois (da conquista da Copa Conmebol) demos uma relaxada. Nessa relaxada, querendo ou não, faltou um pouco de concentração, qualidade. E os gols não vinham", explicou o ex-jogador ao ge.
A invasão dos torcedores, embora chocante, foi percebida pelos atletas como uma manifestação da frustração generalizada. "Os torcedores entraram para mostrar que era daquele jeito (que se marcava gols). Ficamos meio ressabiados, de longe, deixamos eles fazerem todo aquele gesto ali para que não se tornasse uma coisa ainda maior. O Caio Martins (estádio em Niterói) não tinha uma grande proteção, era só um alambrado", acrescentou Sinval, contextualizando a vulnerabilidade da segurança da época.
O gol do Bragantino, marcado por Marcelo Prates, havia acabado de acontecer quando a irrupção dos torcedores se deu. Nove minutos após o tento paulista, a resposta alvinegra veio: Marcelo Carioca, de cabeça, finalmente rompeu o jejum, assinalando o primeiro gol do Botafogo no Campeonato Brasileiro daquele ano. No entanto, o feito não veio sem controvérsia. O próprio artilheiro, em um gesto de desabafo e irritação, respondeu aos torcedores com xingamentos, gerando um burburinho que se estendeu para além do campo. O Jornal dos Sports chegou a relatar a entrada de um membro de torcida organizada no vestiário para um acalorado debate com o elenco .
O Legado de um Empate e a Estabilidade Atual
A reação de Marcelo Carioca e a subsequente tensão no vestiário expuseram a fragilidade emocional do grupo. "A reação do Marcelo também nos deixou com medo, porque ele fez o gol e mandou banana para os torcedores. Para sair também foi complicado, (os torcedores) queriam 'pegar' a gente. Muito mais o Marcelo, mas éramos um grupo. Saímos todos juntos ali. No fim, era um momento que o torcedor não estava aceitando. Vínhamos de uma conquista, passar quase 12 jogos sem fazer gol... Era ruim para todos", concluiu Sinval, ilustrando o peso daquele período para os atletas.
O gol de Marcelo Carioca selou o empate em 1 a 1, um resultado que, embora tenha quebrado o jejum, não alterou substancialmente o panorama sombrio do Botafogo no Brasileirão de 1993. Antes daquele jogo, o retrospecto do Alvinegro era de sete derrotas e um empate na estreia, também contra o Bragantino. Ao final da primeira fase, a campanha se resumiu a apenas duas vitórias, dois empates e dez derrotas, culminando em uma eliminação precoce do torneio nacional.
Esse empate, em particular, representava o quarto jogo consecutivo do Botafogo após a consagração na Copa Conmebol, onde o clube havia superado o Peñarol nos pênaltis (3 a 1, após 2 a 2 no tempo normal), com Sinval se destacando como artilheiro e herói. A passagem de 1993, com sua mistura de glória recente e frustração imediata, serve como um poderoso lembrete da volubilidade do futebol e da paixão incondicional de sua torcida.
Em contraste marcante, o Botafogo de 2025 se encontra em uma posição de relativa tranquilidade diante do Bragantino. Após uma vitória por 2 a 0 na partida de ida das oitavas de final da Copa do Brasil, o Alvinegro detém uma vantagem confortável. Um simples empate ou mesmo uma derrota por um gol de diferença garantirá o avanço dos comandados de Davide Ancelotti à próxima fase. A bola rola às 19h (horário de Brasília) desta quarta-feira, no estádio Cícero de Souza Marques, em Bragança Paulista (SP), em um cenário muito distinto daquele que marcou o embate de 1993.
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