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Ana Sátila Denuncia Botafogo: Salários de R$500 e Abandono Olímpico Chocam

Por Redação FutFogão em 29/10/2025 17:33

A cena esportiva carioca testemunha um desdobramento significativo com a saída de Ana Sátila, uma das maiores expoentes da canoagem slalom brasileira, do quadro de atletas do Botafogo. Com um currículo invejável que inclui quatro participações olímpicas e cinco pódios em campeonatos mundiais, a atleta não poupou críticas à maneira como o clube lida com as modalidades olímpicas, apontando para uma profunda carência de suporte.

Sátila expressou seu profundo lamento pela situação.

?É muito triste. Foi uma realidade que eu precisei presenciar, foi uma vontade minha estar num clube para que a gente começasse ali a desbravar algo que não havia na canoagem ainda?
, afirmou a canoísta, destacando a frustração de uma iniciativa que visava inovar no cenário da canoagem nacional através de um clube tradicional.

A experiência da atleta no Botafogo , iniciada no segundo semestre de 2023, não correspondeu às expectativas. Ana Sátila sente-se compelida a alertar outros atletas sobre o cenário que encontrou.

?Essa experiência infelizmente não foi boa e hoje eu acho que tenho até a obrigação de alertar os atletas que ainda estão ali presentes para realmente falar. O atleta tem que ser valorizado, ainda mais no nosso país e ainda mais nesse momento?
, completou em entrevista ao ge, sublinhando a urgência de reconhecimento e dignidade para os esportistas.

O Compromisso Inicial e a Mudança de Rumo

A chegada de Ana Sátila ao Botafogo foi marcada pela influência do então presidente Durcesio Mello (gestão 2021-2024). A atleta relembrou a motivação por trás de sua adesão:

?Dois anos atrás, eu entrei para o Botafogo com uma expectativa de mudança muito grande, sabe? Como estava no Rio, treinando, fazia muito sentido estar em um clube carioca que queria incentivar, que queria apoiar o esporte, né? Eu fui convidada a entrar no Botafogo. Conheci um cara que ele é fenomenal, Durcesio Mello?
, narrou Sátila.

Naquele momento, o investimento era uma promessa, não uma realidade concreta.

?Não tinha investimento, quando eu entrei, ele sentou comigo e falou: ?Eu não consigo te pagar, mas a gente quer. Então confia em mim que eu vou atrás, eu vou tentar. Você não vai ter salário, você não vai ter investimento. Se tudo der certo, uma camiseta, um uniforme?. Então, era com isso que eu entrei no Botafogo. E eu tava feliz?
, revelou a canoísta, evidenciando a confiança inicial depositada na gestão e no projeto.

Contudo, a saída de Durcesio Mello da presidência foi um ponto de inflexão decisivo para o destino do esporte olímpico dentro do clube. A percepção da atleta é que, com a nova administração, houve um abandono generalizado.

?O Durcesio precisou sair do Botafogo, entrou o novo presidente. A partir de aí, o esporte olímpico foi esquecido, ele foi deixado de lado totalmente, não só a canoagem. Até o remo, que é um esporte tradicional do Botafogo?
, pontuou Sátila, abrangendo a crítica a outras modalidades históricas do Alvinegro.

Remuneração Precária e Assédio: A Visão da Atleta

A canoísta não hesitou em expor a precariedade das condições financeiras oferecidas aos atletas.

?O pessoal é constantemente prejudicado, e o clube não paga um salário digno, a gente tá falando 200, 300, 500 reais para os atletas, para ter uma cobrança, sabe, absurda, algo assim passível de um uma condenação, um assédio moral, dentro do clube. Isso eu vi estando lá. Isso eu tô falando porque eu vi lá?
, denunciou Ana Sátila, revelando valores alarmantemente baixos e um ambiente de cobrança desproporcional à remuneração, que ela classifica como potencialmente configurando assédio moral.

A experiência direta de Sátila no Botafogo lhe confere uma perspectiva única sobre o tratamento dispensado aos atletas olímpicos, reforçando a necessidade de uma revisão urgente nas políticas de apoio e valorização. A atleta, que representou o Brasil em diversas competições de alto nível, agora se posiciona como uma voz ativa na defesa dos direitos e da dignidade dos esportistas.

A Posição Oficial do Botafogo Sobre o Investimento Esportivo

Em resposta às colocações de Ana Sátila, o Botafogo , por intermédio de João Gualberto Teixeira de Mello, vice-presidente de remo do clube, apresentou sua visão sobre a alocação de recursos. O dirigente afirmou que o Botafogo não possui capacidade para investir em todas as modalidades olímpicas simultaneamente, optando por direcionar seus esforços a esportes específicos.

João Gualberto detalhou os focos do clube:

?No meu caso, o remo olímpico e o remo de praia (nova modalidade olímpica já em Los Angeles 2028) estamos reestruturando o departamento, apostando na base (seremos campeões da categoria Júnior B, de 15 e 16 anos) e reequipando o departamento com máquinas de remo indoor (remoergômetros) e novos barcos?
, disse, indicando um investimento estratégico em modalidades com potencial de desenvolvimento e retorno.

O vice-presidente também mencionou outras áreas de atenção:

?O basquete, pelo que sei também está recebendo toda a atenção do clube. Não podemos, é fato, querer disputar todos os esportes amadores, dada a escassez de recursos. Preferimos nos concentrar em poucos, nos quais possamos fazer boa figura?
, completou João em comunicado feito ao ge. Esta declaração do Botafogo alinha-se com uma estratégia de priorização, mas contrasta com a percepção de abandono expressa pela canoísta.

O Legado de Uma Campeã: Ana Sátila no Cenário Internacional

A carreira de Ana Sátila é um testemunho de excelência e dedicação no esporte de alto rendimento. Sua trajetória inclui participações em quatro edições dos Jogos Olímpicos, com destaque para a quinta colocação na canoagem slalom C1, seu melhor desempenho.

Sátila também conquistou importantes títulos internacionais, solidificando seu nome entre os grandes da modalidade. Sua lista de conquistas inclui:

Competição Ano Resultado/Conquista
Jogos Olímpicos 2012 (Londres), 2016 (Rio), 2020 (Tóquio), 2024 (Paris) Participação em 4 edições
Canoagem Slalom C1 (Olimpíadas) - Melhor resultado: 5º lugar
Mundial de Canoagem Slalom (Rio de Janeiro) 2018 Medalha de Ouro (Extreme K1)
Jogos Pan-Americanos - 5 medalhas de Ouro

A partida de uma atleta com tamanha relevância do Botafogo não é apenas uma questão de perda de um nome, mas um indicativo de desafios maiores na gestão e valorização do esporte olímpico dentro de clubes tradicionais brasileiros. A discussão levantada por Ana Sátila serve como um espelho para a realidade de muitos esportistas e clubes no país.

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