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A Influência do Benfica no Botafogo: Estratégias e Conexões de John Textor
Por Redação FutFogão em 10/03/2025 04:13
A Essência do Modelo Benfica: Uma Análise Profunda
A admiração de John Textor pelo Benfica, de Portugal, não é algo novo. O clube português serviu de inspiração para o nome da Eagle Football - rede multi-clubes que inclui o Botafogo. A influência do Benfica também se manifesta nas escolhas de Textor por técnicos. Vários treinadores que trabalharam com o empresário já passaram pela base dos Encarnados; o mais recente é Renato Paiva, que chegou ao Alvinegro na última semana. E a lista continua.
Mas, afinal, o que torna o processo de formação do Benfica tão especial? Para entender como o clube português se conecta, mesmo que indiretamente, ao Botafogo em 2025, o ge ouviu António Carraça, responsável pela construção do Benfica Campus (antigo Caixa Futebol Campus) e pela contratação de Renato Paiva nos Encarnados.
A Gênese do "Geração Benfica" e o Conceito VPP
Em 2004, Carraça apresentou o projeto "Geração Benfica" após ser convencido pelo então presidente Luís Filipe Vieira. O objetivo era criar uma estrutura física multidisciplinar - com campos, hotel, salas de fisiologia e ambientes para o desenvolvimento acadêmico dos jogadores - e definir o perfil ideal de técnicos e atletas para o clube.
Carraça explicou ao ge:
? O projeto que apresentei tinha a ver com vários aspectos que eu considerava fundamentais. A visão tem que ser o sucesso esportivo e a rentabilidade financeira. Depois, articular um plano do ponto de vista das competências dos treinadores, jogadores e seus perfis, para podermos dar aquela lógica de qualificação que era importante fazer na formação do Benfica. As coisas foram acontecendo normalmente ?
Ele acrescentou:
? O projeto Geração Benfica era mais do que qualificar equipes, era qualificar jogadores. Se nós fizermos isso, teremos jogadores melhores, equipes melhores, ganharemos mais vezes, conseguiremos títulos. Paralelamente, desenvolvemos um talento para, no futuro, esses jogadores terem espaço na equipe principal e poderem gerar mais-valias em suas transferências para o exterior. Foi dentro dessa base que construímos (o campus).
Gestão Humana e a Chegada de Renato Paiva ao Benfica
A capacidade de gestão humana era uma característica essencial para os técnicos, o terceiro pilar do "conceito VPP" (visão, plano, pessoas) de Carraça. Foi nesse contexto que Renato Paiva foi parar no Benfica - inicialmente não como técnico. Seu nome foi indicado a Carraça pelo ex-jogador Jaime Graça, então coordenador técnico da especialização do Benfica.
O atual treinador do Botafogo começou sua trajetória nos Encarnados no departamento de scout, aprimorando sua capacidade de identificar talentos. Ele continuou a obter licenças e certificações para atuar como técnico e, após um ano no Benfica, iniciou sua nova carreira profissional.
António Carraça complementou:
? O perfil do treinador eu entendi que tinha que ser um bom gestor de recursos humanos, qualificação técnica, conhecimento prático. Se tivesse sido jogador, era uma mais-valia. Ambicioso, organizado, com grande paixão pelo seu trabalho e que tivesse uma comunicação moderna e pudesse ser um exemplo para seus jovens jogadores e a comunicação externa ?
A Seleção de Técnicos e a Confiança em Jovens
Após entrevistar os treinadores das 16 equipes do clube português e buscar outros nomes no mercado em 2004, Carraça contratou nomes como Rui Vitória (atual técnico do Panathinaikos, da Grécia), João Tralhão e dois técnicos ligados ao Botafogo : Paiva e Bruno Lage, o atual técnico do time principal do Benfica.
Renato Paiva passou mais de uma década trabalhando na base do Benfica, desenvolvendo atletas até chegar ao time B, antes de deixar Portugal. Esse foi um dos fatores que favoreceram o português no Alvinegro, já que a SAF do Botafogo analisa a "confiança em jovens" com base no número de jogadores utilizados.
Conexões Emocionais e a Estrutura Multidisciplinar
Filipe Coelho, formado no Benfica e atual técnico do Chelsea sub-21, revelou ao ge que a construção de conexões emocionais com os atletas é outro pilar do trabalho. Segundo ele, a estrutura multidisciplinar na base dos Encarnados também exige que os técnicos assumam uma posição de liderança frente a múltiplos departamentos.
Coelho afirmou:
? Acho que isso (ligação emocional) é importante, senão seria como uma fábrica. Eles têm uma rotina diária, mas é importante que eles sintam essa rotina alicerçada no apoio emocional. Lidamos muitas vezes com jogadores que desde os 13 são deslocados de suas famílias, depois de serem recrutados por vários pontos ao longo do país. Muitas vezes, somos a família e o suporte que os jogadores têm. Esse apoio ao longo de toda a formação, mesmo quando não os treinamos mais, também faz do Benfica um clube e uma academia especial.
Ele acrescentou:
? O treinador tem que ligar todos os pontos ao redor de todos os departamentos, com o jogador no centro para se desenvolver e chegar o mais preparado possível à equipe A, e ir para outros voos mundiais. Sabemos que as equipes profissionais estão dotadas de departamentos de análise, médicos, de todo âmbito. O salto (entre base e profissional) passa a ser natural e mais fácil de dar para os treinadores que vivenciaram a formação do Benfica.
A Dinâmica das Equipes Técnicas e o Desenvolvimento Humano
Mesmo com equipes técnicas extensas, o Benfica não as mantém fixas em todos os níveis da base. Filipe Coelho cita ter trabalhado com diferentes profissionais (técnicos, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, entre outros) do sub-12 ao sub-19.
Filipe completou:
? Esta capacidade de lidar com muita gente permite uma bagagem muito grande ao nível de conhecimento do que é lidar com pessoas, do ponto de vista técnico mas também do ponto de vista humano, que é fundamental para atingir um patamar de alto rendimento ?
A Rede de Talentos e a Influência no Botafogo
Do Benfica Campus, surgiram nomes que já foram entrevistados por John Textor ou passaram pelo Botafogo . Além de Renato Paiva e Bruno Lage, há Luís Nascimento, irmão e auxiliar de Bruno Lage, que também treinou categorias de base dos Encarnados.
Na busca por um técnico no início de 2025, Textor chegou a entrevistar Luís Castro, do Dunkerque (França), que ganhou a UEFA Youth League com o Benfica na temporada 2021/2022.
Outro nome é Jorge Maciel, ex-treinador do sub-23 do Benfica, que foi auxiliar de Pierre Sage no Lyon, outro clube da Eagle Football de Textor. Atualmente, ele trabalha no clube francês com Paulo Fonseca.
Claro, há nomes que passaram pelo Benfica e nunca trabalharam com Textor. Dois exemplos são João Tralhão (auxiliar de Nuri Sahin no Borussia Dortmund e Thierry Henry no Monaco, que treinou juniores e o sub-23 do Benfica) e Filipe Coelho, o atual treinador do Chelsea sub-21.
O Legado de Renato Paiva e o Futuro do Botafogo
A experiência nos Encarnados acaba ligando até aqueles que nunca tiveram contato com o empresário americano ao Botafogo , ainda que indiretamente. Filipe Coelho revelou ao ge que começou na base do Benfica como auxiliar técnico de Renato Paiva, no sub-14. O técnico do Chelsea também já trabalhou com Luís Nascimento.
Filipe Coelho afirmou:
? Tive muita sorte de que a minha primeira experiência, há 19 anos, foi com o Renato. Sem dúvida nenhuma, esta parte tenho que valorizar não só pelo conhecimento do jogo mas também pela dimensão humana, procurar ajudar o outro. Infelizmente, trabalhamos juntos apenas nessa época, mas ficamos amigos. É sem dúvida nenhuma uma referência para mim até hoje, mas sou suspeito ?
Ele complementou:
? O Botafogo tem a sorte de agora ter um Renato ainda mais bem preparado. Ele é um treinador de projeto, que precisa de tempo para implementar as suas ideias. Sabemos que o contexto (do futebol) brasileiro às vezes é muito emocional, vive da vitória e da derrota. É preciso tempo para treinar, mas esse passo de qualidade vai ser constatado rapidamente naquilo que o Botafogo conseguirá fazer em termos de exibição. Acima de tudo, alicerçar o que conheço no Botafogo: um jogo de controle, de posse, mas não a posse por posse. Posse para atingir o último terço e ferir o adversário, com uma estrutura atrás da bola também muito forte. (Paiva) gosta de um futebol agressivo, dominador, portanto acho que pode ser um casamento muito feliz.
Renato Paiva terá seu primeiro desafio à frente do Botafogo no próximo sábado, em um jogo-treino contra o Cruzeiro no estádio Nilton Santos, às 17h. A partida não terá transmissão ou presença de público. O próximo compromisso oficial do Alvinegro será no dia 29 de março, às 16h30, contra o Palmeiras - no jogo que abre o Campeonato Brasileiro 2025, no Allianz Parque.
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